sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

Que nome tem esse nome que um nome não explica?

  Quando eu não consegui dormir uma noite inteira e achava que era por causa do calor de janeiro, quando eu atrasei todos os trabalhos da semana e culpava o tempo corrido, mas fazia um bolo diferente a cada dia,  biscoitos e pães também. Enquanto eu preparava um banquete e olhava para a janela, para o celular, para a porta e os ponteiros do relógio de parede, feito o cão, quando eu demoro a chegar em casa. Quando eu tive fome de uma comida que eu nunca comi e abri a geladeira na esperança dela estar lá, quando o telefone não tocava, quando nenhum email chegava. Quando eu achava estar doente, sem nenhum sintoma. Enquanto fazia sol e eu não sabia se era bom e depois chovia e eu não tinha opinião alguma, quando a notícia no portal, telejornal ou pelo comentário de alguém, no corredor, me entristecia e eu não falava.

  Quando depois da meia noite eu resolvia limpar os vidros da casa, quando antes das seis da manhã eu saia para correr e a padaria ainda estava fechada, enquanto eu fazia dez cafés pela manhã e tomava um, os outros nove eu oferecia, insistia mesmo para que alguém os tomasse. Quando eu fazia uma lista de metas para este ano e no meio dela eu me levantava para atender a porta, de onde ninguém me chamou e eu esquecia o que eu queria colocar no papel. Quando o cão me olhava, porque era hora de ir para a rua e eu havia esquecido. Quando eu segurava a coleira dele com tanta força, como se eu o quisesse  ater a mim para sempre, como o filho de uma mãe dramática.

  Quando eu perdia a fome e no lugar dos bolos eu lixava uma parede ou pintava um armário de uma cor que depois eu odiaria.
- Laranja! Um criado laranja no meu quarto. Um por do sol na beirada da minha cama.
  Enquanto eu procurava um destino para viajar, nas férias, daqui a dois anos. Quando eu olhava para os rostos na rua e procurava alguém ou um sinal, em alguém, que me respondesse a uma pergunta que eu nem sabia se existia. Quando de noite eu olhava para o céu, não como quem contempla, mas como quem espera, procura.

  E de manhã, se eu ficasse mais cinco e depois dez minutos na cama, eu não dormia, mas aguardava um som, um sopro, um latido que me pedisse para levantar. Quando, eu chegava em casa, deitava no sofá e achava os livros muito desorganizados e tortos, eu os tirava  da estante para limpar e arrumar e já no terceiro eu abria e lia as anotações que eu mesma tinha feito, mas achava tão novo, tão absurdamente genial para alguém que era eu e não parecia e eu me perdia no tempo, nas horas, na espera. A noite chegava e eu não tinha limpado ou organizado mais que uma dezena de  livros.

  Mas, então, sem anúncio, surge uma pequena nota, um bilhete, chega um email, uma saudação estrangeira e uma calma gentil aparece na porta, senta na minha sala, em frente aos livros ainda bagunçados e pede um café e, sem pressa, levo-o forte, com um pedaço de bolo; ela elogia. Eu não pergunto quanto tempo ela fica, ela também não me fala sobre o tempo ou a minha aparência. A calma e eu no meu sofá, relaxadas, sem olhos para o relógio, porta, janela ou fogão. De repente, eu era a espera por alguém a quem nunca me pareceu faltar, mas era, era essa a espera. A calma me trazia o recado.

  E no outro dia, depois de uma noite inteira dormida, depois de me levantar atrasada, passar o único café e tomá-lo inteiro, eu trabalhava sem checar meus emails a cada cinco minutos, sem  fazer bolos desesperada, sem lixar portas, paredes e pintar os móveis de uma cor esquisita, eu voltava à casa sem ter que organizar os livros, bastava escolher um e lê-lo até o sono chegar. Era a falta que eu só soube sentir no dia em que voltou quem eu achava que já tinha me acostumado à ausência.

  Depois da descoberta, eu quis fazer anúncio na internet, outdoor na avenida, desfilar em carro aberto, exibindo o sentimento da maneira mais pública que eu pudesse. Era a saudade que eu negava, era saudade que eu só soube quando ele virou a maçaneta da porta e segurou a minha mão. Era saudade escrita em caixa alta. Foi só abrir a porta e ele segurou o meu soluço, as minhas angústias de dois meses e  com uma das mãos ele segurou meu coração. Como se chegasse na minha vida agora, como se estivesse sempre chegando. Quando eu não sabia onde doía, ele acenou, a calma me visitou e, finalmente, eu não tinha um banquete preparado, mas o convidado chegava na hora certa.




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