terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Meus bons amigos onde estão?

   Lendo um jornal, durante o feriado, me deparei com uma matéria no caderno de cultura (meu preferido sempre) sobre uma enfermeira australiana, cujo trabalho é acompanhar pacientes em estado terminal. Depois de anos convivendo com tais pacientes a enfermeira lançou um livro (ainda não disponível no Brasil), chamado "Os cinco lamentos do moribundo". Durante o período de convivência com os pacientes ela fez uma análise quase poética (pelo menos é o que me pareceu na matéria do jornal) sobre este difícil período de proximidade com a morte. Segundo a enfermeira, os pacientes se mostram corajosos, se agigantam com o que estão prestes a enfrentar, mas também, como era de se esperar, possuem seus "arrependimentos", lamentos de quem está próximo de uma despedida, aparentemente, definitiva.

  Entre alguns "lamentos" dos pacientes (gostaria de ter vivido à maneira que me faria feliz e não para agradar os outros; gostaria de ter me dedicado menos ao trabalho; gostaria de ter tido  coragem de declarar os meus sentimentos a quem amava; gostaria de ter me permitido ser mais feliz) o que mais chamou a minha atenção foi: "gostaria de ter ficado mais com meus amigos". Segundo a australiana a proximidade com a morte faz com que os pacientes se conscientizem da solidão, da falta de companhia no momento derradeiro; e restabelecer laços, rompidos há muito tempo, com tão pouco tempo disponível parece muito difícil.

  E, então porque os laços se romperam? Porque então a gente deixa isso acontecer? Provavelmente porque priorizamos outros "assuntos", damos preferência ao que nos parece mais "urgente"; numa vida tão prática a gente precisa valorizar o que nos parece mais conveniente e oportuno. A gente segue imaginando que amizade, assim como outras relações amorosas sobrevivem por si só. Grande enganação!

  Logo depois do carnaval encontrei uma amiga, que ultimamente tem sido a mais próxima na minha vida (gracias por tu amistad!) e ela logo abordou o assunto sobre fazer/manter amizades, então compartilhei com ela a matéria e entre minhas opiniões mais pessimistas (todo mundo é sozinho) e as mais otimistas (ninguém é sozinho, porque carrega dentro si os "outros" que conviveu, amou...), acho que chegamos a conclusão do quão importante estes laços são para todos. 

  Mas tantos passaram, tantos ainda vão passar. Então, quem é amigo? O que é ser amigo? É lealdade, presença, fidelidade, respeito das suas opiniões, cuidados recíprocos?

  Acho mesmo que amigo não é o que fica, é o que deixa algo dele em você. Vocês não se veem mais, não saem mais juntos, possuem vidas muito diferentes, mas ele te deu algo que fez de você quem você é, e você deu algo a ele, isso sem ao menos perceberem, que fez dele também uma nova pessoa. Seja grata aos que foram, mas deixaram em você algo de novo. Esses sim são seus amigos. Disponibilidade é bom, companhia é bom, piadas são ótimas, força em um momento difícil é inesquecível, mas o melhor da amizade é quando ele (o amigo) é ainda presença mesmo longe, ele está em você, ele é também você, isso sem a dependência da presença. Porque amizade não prende, não limita, não te censura, amizade é liberdade, amizade é doar sem pensar em nenhum retorno (nem ao menos gratidão deve ser esperada). A gente, às vezes, erra quando deseja reconhecimento, gratidão, lealdade, mas isso é só vaidade. Porque amizade não cobra, não espera, não pretende nada mais do que já é. E o que você recebeu e só bem tarde (ou nunca) percebeu, já é tudo, já é o valor máximo.

  Os meus bons amigos estão aqui comigo agora, todos eles (o que não é o bastante, porque eles precisam também saber disso) e os seus onde estarão? Carregue-os consigo e vez ou outra avise-os disso...talvez este seja um bom caminho...o lamento dessa ausência pode mesmo ser a própria morte.


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