segunda-feira, 26 de março de 2012

Custa-se mesmo a (re)aprender pedir...

  No início era assim, fazia pedidos e proclamava desejos a perder de vista...a cada igreja nova que visitava, a cada Santo a que eu era "apresentada", joaninhas de jardim, um pelinho dos cílios, perdido em alguma face amiga, fitinha do Senhor do Bonfim, de Nossa Senhora Aparecida, para toda e qualquer "mandinga" ou crença popular, eu fazia  os tais três pedidos (o número era sempre este) e aguardava, com fé, sua realização. A verdade, é que sempre me faltou qualquer "comprovação" do sucesso das tais crendices. Acreditava que como nada era "pra já", eu, além da fé, deveria ter muita paciência para aguardar o momento certo de receber minha graça. Porém, até o tal "momento" chegar, o fato do pedido, assim como o seu conteúdo, eram esquecidos por mim...
  Lembro que fazia pedidos muito específicos, inclusive, alguns, de conteúdo material, então discriminava tudo de modo bem claro: cor, tamanho e marca.

  Mais tarde, comecei a considerar a minha relação com o "místico", muito superficial e pouco séria. Achei que o "escambo", neste campo, era, inclusive, desrespeitoso. E, ao mesmo tempo, passei a acreditar, que só quem poderia realizar meus desejos era eu mesma. Então, crescida, mas ainda muito cheia de fé. Passei a fazer pedidos mais subjetivos e gerais: força, fé, determinação, generosidade, humildade e discernimento para fazer as melhores escolhas. Mas, suspeito que esses pedidos muitos "gerais" confundam também o meu destinatário e benfeitor. Como realizar um pedido tão pouco claro?

  Vez ou outra, aparece aqui em casa, uma dessas lindas joaninhas: coloridas, pequeninas e delicadíssimas e não resisto a pegá-las cuidadosamente e fazer um pedido. Porém, arrisco a matá-las, para que não fujam, enquanto penso no pedido...desejava ser mais assertiva, pedir algo mais específico, mas simplesmente não sei o que quero! E a constatação é mesmo aflitiva. 

  Lembro do filme do Woody Allen (Vicky Cristina Barcelona), em que Allen reforçava o caráter desprendido,  (de certo modo) imaturo e incerto da personagem  Cristina, que sempre declarava "não saber o que queria, mas saber o que não queria". E, é exatamente isso, que eu sinto com a joaninha na mão, esperando ansiosamente para ser solta...posso fazer um não-pedido? Arrisco; faço então os três (não) pedidos: - joaninha, não me deixe perder..., joaninha, não deixe que eu me torne... e, finalmente,  - joaninha, não me dê o que eu não mereça. 

  Acho que ainda não foi dessa vez que eu consegui algum foco. Da próxima vez tentarei ser mais precisa, talvez tente (mais uma vez!) fazer uma lista detalhada de objetivos...o problema é que elas mudam constantemente e nunca as tenho, nas mãos, quando a oportunidade dos desejos aparece. Por outro lado, a população de joaninhas por aqui, só me parece crescer. Ótima notícia para alguém que ainda não sabe exatamente o que quer...

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