sexta-feira, 20 de abril de 2012

E a gente segue "engolindo o choro"

  Porque foi assim que ensinaram, porque era assim, que quando ainda pequenos, muitos de nós, fomos "aconselhados" a fazer: - Engole o choro, senão apanha mais; - Engole o choro, se não quiser ficar de castigo. 

   Bobagem, mau conselho, impaciência dos "super exigidos" pais. Naquela época era comum, era até natural...a gente prendia o grito na garganta, sufocava as lágrimas e ainda com os olhos marejados, seguia em frente. Acho que a dor não passava, acho que o problema não se resolvia (mas se chorasse também não teria nenhuma resolução efetiva, só por chorar.), mas a gente não "incomodava", não "estragava" o dia, a diversão ou o momento alegre do outro.

  E de tanto aprender a manter as lágrimas represadas, o sentimento internalizado, o choro seco e mudo, a gente cresce, mas mantém o "costume". 

  Chorar, em público, especialmente, mesmo que atualmente seja mais "democrático"(homens, mulheres, adultos e crianças...) e mesmo que pareça mais "aceitável", já que sensibilidade, hoje está um pouco mais dissociada de fragilidade, ainda é pouco comum. Mais do que não demonstrar os sentimentos mais profundos, o "engolidor de choro", teme assustar, afastar; teme deixar o outro constrangido, afinal, como lidar com alguém (pouco íntimo) que, de repente, se esvai em lágrimas? Perguntar, fingir que não esta vendo, abraçar...para este tipo de situação, simplesmente, não há um comportamento "modelo". E improvisar, às vezes, é tão complicado. Então, prevendo a situação de desconforto para a qual podemos "empurrar" o desconhecido. A gente segura, engole qualquer demonstração mais subjetiva.

  Até um dia, que tal comportamento se tona "automático"...a gente morrendo de vontade de derramar uns litros de lágrimas, soltar uns soluços daqueles incontroláveis e segue a vida com o nó na garganta, porque "o show não pode parar", né? Até pode...mas você não vai querer ser a culpada do término do espetáculo, vai?

  Mas, assim como para outros remédios, soluções e técnicas, submeter-se ao "choro engolido" repetidas vezes pode implicar em um "efeito colateral", neste caso, indisfarçável. Um dia, por muito pouco, depois de muitos nós na garganta e lágrimas insistentemente represadas, por uma mágoa mínima, por uma feridinha de nada, as lágrimas não conseguem se manter discretas, os nós começam a se desprender da garganta e não haverá  "manual de convivência social" que poderá manter lá dentro, tudo que você suportou um dia. O jeito é mesmo chorar, chorar muito, ainda que você esteja dentro de um ônibus cheio, com desconhecidos horrorizados com tamanha "pessoalidade". E aí sim, obrigamos o outro a nós ver integralmente, sem nenhum disfarce, sem "carinhas bonitas" inventadas, quem sabe assim, todos no ônibus não se identifiquem com o seu desabafo e soltem, todos, todas aquelas lágrimas lá, que nós sabemos que, absolutamente, todos escondem. Ia ser, no mínimo, uma cena surreal. Mas, quem se arriscaria a pegar uma carona em um ônibus destes, se o consenso é a cara feliz?




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