quinta-feira, 5 de abril de 2012

A falta também faz parte


   Não se deixa de "herança" desejo nenhum, nem para si, nem para o outro. Quase nenhuma fome suporta ser adiada até você ter os meios necessários para saciá-la. O desejo é para o "agora mesmo", é  "para já". Ás vezes, deseja-se algo ardentemente, mas enquanto não se pode realizá-lo, cultiva-se a vontade até o momento oportuno. E por não poder, não ter, por estar longe, o objeto do seu desejo se torna cada vez mais almejado, mais sublime. Até que o universo, finalmente, "conspira a favor" e, enfim, aqui estão vocês: você e o seu desejo. Mas e a fome? Cadê a maldita da fome? 

  Então, comemos, devoramos, não deixamos sequer um único farelo. Engolimos, mas não saboreamos, sabe? Insistimos demasiadamente para realizar algo que era de um outro tempo, de um outro lugar, de uma outra pessoa (afinal, sou outra. E, os desejos também são outros...). E, por que tanta energia empreendida? Só para ter o que te faltou um dia?

  E, se não é possível "cristalizar" o seu desejo, guardá-lo intacto, lá dentro, até se realizar.  Quanto mais "transferir" sonhos...por isso tanta gente por aí frustrada. Emprega-se esforço, luta, trabalho e dedicação para dar aquilo que não se teve para o herdeiro escolhido. E fala, de quê adianta? A fome dele será outra, de algo que talvez você teve em abundância e por ter tido tanto, você subestima o seu valor. E por isso, não o oferece para o faminto da vez. 

  É preciso aprender a se alimentar também das faltas, a ausência de um dia, quase nunca poderá ser recuperada em outro tempo. Mas, pode-se e deve-se sempre aprender a ver com mais gratidão aquilo que lhe alimenta hoje. E, este aprendizado sim, é que é a verdadeira herança.




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