sábado, 26 de maio de 2012

O palhaço estava só de passagem

  Um homem se joga do alto do prédio, da janela de seu apartamento e vestido de palhaço, escolhe colocar fim a própria vida. Parece até ficção, mas me contaram o caso como algo real. É verdade mesmo? Apesar do figurino um tanto quanto, folhetinesco, acreditei. É sim real. Tenho como filosofia acreditar em absolutamente tudo; até no absurdo. Porque, no fundo, eles são tão possíveis...

  Um homem, um palhaço escolheu seu fim; determinado, premeditou seu "crime". Acontecimento estarrecedor e recente (Coisa de semanas). Que graça achava da vida, ou que graça não achava mais, que graça restava a ele, teria ele senso de humor, quando tomou a decisão? Pensou na plasticidade da cena? Decisão premeditada mesmo? Do que ele desistia? Que ironia ele desejava imprimir ao seu fim? O palhaço suicida desejava emitir alguma mensagem? Será que descartou as cartas drámaticas de despedida, para comunicar-se através de um traje mambembe?

  Um homem, vestido de palhaço.Tantas perguntas, sem possibilidade de respostas. O que teria perdido o palhaço, o que teria afastado o palhaço de seu picadeiro? Há os que julgam os suicidas como covardes, há os que julgam como desertores, dissidentes, combatentes que se recusam a lutar. Será?

  Um homem, um palhaço, dia desses, pôs fim a qualquer possibilidade de alegrias futuras. Será que lhe faltava alegria, coragem ou amigos? Eu teria adorado receber um palhaço a minha porta, seja que hora fosse, mas ele escolheu bater noutra porta, em busca de algo que não encontrou por aqui. Para mim, um homem se encheu de coragem, vestiu-se de palhaço e resolveu se apresentar àquela inevitável visita, de maneira inusitada, entre ambos não existiria necessidade de diálogo. O palhaço e a ceifadora de vidas, frente a frente; ela surpresa e ele obstinado lhe diria: - Resolvi não esperá-la, a trajetória estava enfadonha por demais. O que tem para mim? Já vou logo avisando: não gosto de esperas, nem de tempos monótonos e não acho que a morte seja triste. Muito prazer, sou homem, palhaço e sou eu quem digo quando tudo termina.

 O homem, o palhaço, eu e você estamos aqui, num mesmo barco, só de passagem. Só que ele saltou em águas turvas, misteriosas, em um mergulho, até onde conhecemos, sem volta; e nós? Continuamos insistindo em encontrar algo bom depois da travessia...talvez o palhaço, em meio a todo drama, todo desconforto, não tenha perdido somente a graça, a paciência e a paixão pela vida. Suspeito que o palhaço tenha deixado cair, nessas mesmas águas que nós hoje atravessamos, sua fé; e sabendo da sua importância para continuar a jornada, ele saltou em busca dela.

  Está desvendado, o palhaço não pulou rumo ao desconhecido, o suposto suicida não desejava pôr fim a sua vida coisa nenhuma, ele saltou rumo a um resgate. Não acho que o palhaço desejasse luto, mas é inevitável que despejemos certo lamento. Só espero que ele tenha definitivamente encontrado o que procurava. Afinal, ele só estava aqui de passagem. Homem, palhaço ou suicida, ele seguiu o seu destino e passou...


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