segunda-feira, 4 de junho de 2012

É que hoje acordei sem saudade

  Algo quase inédito para pessoas como eu! Já que sou como um daqueles velhinhos saudosos, sentados no banco da praça que suspiram: "Ah no meu tempo...como isso era bom, no meu tempo". Sem banco da praça, sem tantas rugas, mas a saudade é sempre a mesma. E esse "meu tempo" pode ser coisa de 10 anos, ano passado, última semana, duas horas atrás ou até em um futuro próximo ou distante. Pessoas como eu, sentem saudades até de sentir saudades, "inventam" saudades, pressentem, enquanto vivem determinado momento, a saudade que irão sentir mais tarde. E, embora isto me pareça quase patológico, acho que já faz parte de mim.

  E, quando hoje acordei sem a familiar, onipresente e persistente saudade, acho que também acordei menos eu ou acordei menos o que eu pensava ser eu ou, ainda, talvez "o outro eu" tenha ficado lá atrás com o passado do qual não sinto saudades. É que hoje o passado tem me parecido velho, amarelado, sem graça, idealizado demais, sem utilidade demais. Então que fique onde deve estar, no passado e que não venha perturbar o meu agora.

  Sabendo da minha "não-saudade", me certifiquei de que nenhuma lembrança material ficaria a minha mão. Escondi bilhetes, cartas, cartões, deletei e-mails, guardei algumas fotos, limpei obstinadamente o fundo dos meus sapatos, não queria poeira antiga nos seus solados.
  É que hoje, talvez só hoje (nunca dá para saber), não sinto saudades dos passeios de trem aos sábados, do cheiro do amendoim no vagão, do cheiro da mexerica e do brilho e colorido das suas cascas nos trilhos; não me faz nenhuma falta o cheiro do frango de roça, dos almoços de domingo, o barulho das pequenas confusões entre as crianças da família, o tilintar dos copos em brindes, quase involuntários dos mais velhos, tão desajeitados, o gosto bom do doce de cidra da avó, calma, paciente, calada, com seu olhar mais doce do que a sobremesa de cidra, mirando o longe, onde ninguém mais via; não me fazem falta os dedos tortos do avô, descascando milho, feijão, nem seus olhos azuis profundos, o primeiro mar que conheci. É que não me faz falta as brigas com o irmão, a implicância com a irmã, as amigas da rua. Hoje não acho graça nas bebedeiras de universitária, não sinto saudades dos amigos, dos professores, de nada. Passou, entende? Só acho que fizeram o que tinham mesmo de fazer, ficaram numa foto, numa lembrança que hoje não sei qual é, porque não sinto saudades, minha memória agora dura, no máximo, 2 segundos.

  É que hoje acordei sem saudades e me senti feliz assim, livre, rejuvenescida, sem banco de praça nenhum. E se a liberdade for mesmo assim, desapegar de afetos passados? Hoje estou abrindo mão das lembranças tão constantes do passado, estou deixando ele passear sem coleira e, mais, tenho ordenado bravamente: - Suma daqui, vá pra longe, encontre o seu lugar!

  Hoje, pelo menos por hoje, eu não sou responsável por aquilo que cativo, hoje não. Porque eu não quero ser, entende? Hoje eu não sou, hoje eu não vou, hoje eu não estou. Hoje eu acordei com vontade do agora e uma certa ansiedade de amanhã. Hoje eu acordei criança de olhos brilhantes, aguardando a festa de aniversário de logo mais, hoje eu acordei menina no dia 24 de dezembro, esperando o presente de papai Noel. E isso deve ser bom, não deve?


Um comentário:

Anônimo disse...

Deve nao...nd a ver nao sentir saudade dos amigos!!!E nao achar graca das bebedeiras da facu,como???as primas,os irmaos,casa de vo...passa logo hj,ta??!!! ;)