quinta-feira, 14 de junho de 2012

Não fale. Só espere.

  Insistia em saber porque ela havia mudado tanto, queria saber se as coisas entre eles voltaríam a ser o que um dia haviam sido. Ela repetia que continuava a mesma, não havia diferença alguma, continuava sendo o que sempre fora. E, embora afirmasse isso com grande convicção, sabia que não era verdade, sabia que havia mudado sim. Era consciente da contradição entre o que dizia e o que, de fato, sentia.

  E embora tentasse, não sabia explicar o porquê. Havia mudado sim, era outra sim e todas as relações que estabelecera até agora também passaram por transformações. E isso, não era ruim e isso não significava que não estava satisfeita com o que era ou com o que os outros eram para ela, só havia seguido o destino inevitável da vida, o da transformação. Mas, muitas vezes, palavra nenhuma é capaz de expressar sentimento, explicação, resposta. Você sabe perfeitamente dentro de si o que é, mas com as questões mais abstratas não há vocábulo que dê conta.

  Uma coisa pode ser tão ruim e triste que fica difícil de se traduzir em palavras, outras vezes, o sentimento é tão avassalador que exprimí-lo em qualquer idioma, reduzirá o tamanho da alegria. Nestes casos, o melhor a fazer é se calar e torcer para que o outro subentenda pelo seu olhar, este sim, capaz de ser objetivo e certeiro seja qual for a questão.

  Optou pela mentira, o rapaz era muito menino para entender qualquer coisa só pelo olhar. Consolou o pobrezinho:  - Sempre serei a mesma para você; nós sempre seremos os mesmos entre nós, haja o que houver. Mentia, mas o menino jamais entenderia o processo antes de passar por ele. Um dia será ele o modificado, nós nos encontraremos na rua e nos cumprimentaremos com um leve aceno de cabeça, no seu olhar eu saberei que ele, finalmente, entendeu a minha mudança. Satisfeitos, mutuamente transformados, seremos finalmente os mesmos, ainda que também sejamos outros. É preciso tempo, paciência e espera para certos sentimentos serem compartilhados. Não há necessidade de pressa, nem palavras desordenadas, atiradas aleatoriamente. Um dia ele irá compreender, um dia a resposta será a verdadeira, sem atropelar nada, nem ninguém.


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