quarta-feira, 24 de abril de 2013

E por medo os frutos apodrecem

  Explico-lhe que tenho mudado de ideia, eu até pedia mesmo paciência, dizia que tudo seguia seu curso naturalmente, mas agora começo a achar que nem é tão natural. Há intervenções catastróficas sim, mas não acho que é o caso e acho, ainda, que pior é não intervir. Essa coisa toda de preservar uma relação quando se quer outra é, no mínimo, covardia. Eu sei, eu sei, o medo faz parte da vida de cada um, não há como evitar, em algum lugar de qualquer pessoa há uma fragilidade. Mas tenho achado que são as fragilidades que não nos deixam sucumbir, sabe? É como um alcoólatra no início do hábito, bebe, bebe cada vez mais porque é "forte pra bebida", a embriaguez não incomoda, a ressaca passa rápido e faz do eventual, o cotidiano e por ter sido forte, não teve nunca medo de se tornar escravo de um costume e, então, o vício. Entende? Acho que ela se perde na analogia e eu preciso mesmo que ela entenda. Então continuo: essa sua fragilidade que você conhece tão bem já a protege, é ela que faz com que você se torne atenta a esse seu medo, ela é quem te dá os limites que você calcula necessários, se não é alcoólatra, não há problema em um primeiro gole, se conhece sua fraqueza para o álcool não passará deste primeiro copo. Por isso não há necessidade de evitar definitivamente uma bebida. O medo só precisa limitar e não evitar.

  Acho ótimo essa sua disponibilidade em ser boa para os outros, mas acho que você também poderia ser assim para si. Intervenha. Faça algo, peço. O que está fazendo com os seus sentimentos é deixar que alguém, em algum momento, alimente-os e isso é uma espécie de assassinato, sabe? Deixá-los soltos, perdidos, esperando uma resolução natural é crueldade com você mesma e só. Se não conhece o caminho certo, tente vários, até a exaustão completa, porque risco mesmo é esperar a salvação que vem de fora. E se ela não chegar? Quanto tempo mais resistirá as intempéries, ao medo? A decisão e depois a ação, no ínicio, até poderão parecer-lhes desastrosas, em um outro momento, estúpidas, mas foi feito, entende? Eva fez a bobagem de comer a maçã, não foi assim? Mas a humanidade só nasce a partir disso ou não? Paro com os exemplos aqui, mas eu precisava tentar, essa é a minha intervenção. Na sua questão, que é um pouco minha também.

  Olha, eu não sei qual é o caminho, mas tente algum, eu acho mesmo que nunca tive resposta alguma para nada, mas suspeito que, às vezes, pensar a vida dos outros é um pouco mania minha e me ajuda. E eu? E a minha vida? Acho que, sob certa perspectiva, sou muito parecida com você. Eu acho que tenho vivido tudo errado, leio muito, ouço muita música, vejo muitos filmes e vivo muito tudo isso, sabe? Viver  o que ninguém mais vive, não compartilhar, de fato, tem valido a pena? Eu tenho, agora,  um medo imenso de sentir isso tudo sozinha sempre. Trocaria todas as palavras lidas pelas ditas de improviso; trocaria os sons artísticos por barulhos mais reais, dissonantes; e todos aqueles personagens do cinema por gente de verdade. Acho que você me entende, né? Como é que alguém nesse mundo pode viver de uma espera sem prazo, sem definição, sequer, aparente de data? É um sofrimento desnecessário, tenho achado.  Quando eu disse que você deveria ter paciência falava das recusas e não das tentativas. Quando negarem-lhe algo espera, mas é preciso o pedido antes, com este, quanto menos tempo gastar, menor o sofrimento.

  Se ainda permite alguma sugestão, pare de olhar a árvore, esperando que o fruto caia, suba e tente agarrá-lo, se não houver força, segurança e flexibilidade suficientes, só lá do alto você saberá. Mas se continuar aí embaixo talvez ele caia, talvez não.












3 comentários:

Anônimo disse...

Que lindo Mand...perfeito!!!

Ana disse...

Muito lindo e muito triste... há momentos de merda na vida das pessoas...

Amanda Machado disse...

Haha... Ana e os seus comentários certeiros...