domingo, 16 de junho de 2013

E isto que parece cansaço é outra coisa

   É tristeza mesmo. E eu não me envergonho da minha. Há os que omitem, fingem, escondem dos olhos alheios os sentimentos que carregam, sorriem para foto, quando tudo por dentro escorre em dor. Eu não. Não me orgulho, não esfrego na cara de ninguém, algo que só para mim tem mesmo importância, mas não me nego, não a nego. Não estou cansada, tampouco desesperançada, desiludida ou qualquer coisa que pareça definitivo, mortal. É só tristeza. Daquelas que não matam, não pedem morte, não destroem planos, não corroem almas, não estragam o dia de ninguém; nem o meu  a minha tristeza estraga. Parece cansaço porque os olhos brilhantes, despertam com uma cor esmaecida, de folhas secas; parece desânimo, porque pede recolhimento, silêncio, distância; parece desilusão, porque finalmente reconhece que os outros continuam sempre sendo os "mesmos outros", quando a gente segue mudando, querendo "novos outros".

  A tristeza que não escondo não faz dívida com ninguém, porque não culpa a inabilidade alheia, nem a minha, a minha tristeza é responsável por ela e só; admite, não se desculpa, invade e eu não expulso, não a varro para debaixo do tapete, recebo-a como um parente, com café fresco, conversa sobre o tempo, com a intimidade  entre aqueles que há muito se conhecem, mas não se visitam diariamente. A minha tristeza é visita que pode ser vista, convido-a para darmos uma volta até à praça, vamos até a padaria, almoçamos juntas, dividimos os cadernos do jornal de domingo, recomendo a ela um artigo, ela me mostra uma matéria sobre cinema, assistimos um pouco de TV, cochilamos no sofá à tarde; sem ressentimentos, sem covardia.

  A minha tristeza é antiga companhia e é ela que melhor me entende, desde que nos conhecemos. E por ser remota, conheço seus passos, seu cheiro, sua voz grave e cores sisudas. Reconheço sua transitoriedade, chega hoje e amanhã já faz as malas, por isso não me obriga à química alguma, consultas ou terapia. Tristeza é boa amiga porque é o sentimento mais profundo e individual que todos os outros; enquanto a alegria agrega, faz barulho e olha para fora; a tristeza permanece dentro, individualizada, voltada somente para o ser que a recebe. Tristeza fala a língua da alma, sem ao menos abrir a boca. É ela que sugere que para encontrar gente nova, você deve frequentar lugares novos; para frequentar mundos novos, deve-se abandonar, sem medo, os lugares antigos, acostumados com a forma do seu corpo. Tristeza é reflexiva, intelectual e analítica; mas nunca é fria. A minha tristeza acolhe, quando ninguém mais pode fazê-lo; prepara o café, o banho, as roupas para um novo dia, quando todos os outros sentimentos já estão na rua, vaidosos desfilando pelas ruas abarrotadas de sorrisos fáceis.

  A tristeza respeita o choro, não pede para segurar as lágrimas, não oferece lenço de papel, não tenta consolar, fica somente ao lado, esperando o mar salgado lavar a face artificialmente colorida; a tristeza desmascara, faz da gente mais humano, menos personagem inventado. Permite o choro sem justificativas, do nada, para o nada; porque só ela entende que choro de verdade não carrega um motivo, mas vários, antigos, acumulados e até já esquecidos - apagados da memória, mas latentes em algum esconderijo.

  A minha tristeza é produto barato, dura um dia e meio e de repente, emperra, morre, as pilhas acabam, para dar lugar a um outro brinquedo mais barulhento. A tristeza logo passa, paciente eu admito, mas ela volta, porque é companheira também querida, que eu aprendi a não rejeitar, camuflar ou lutar contra. Tristeza é companheira, nunca inimiga.



4 comentários:

Ana disse...

Compreendo-te perfeitamente e também tenho uma tristeza assim como companheira, que por vezes me visita com mais insistência. E concordo contigo, não é uma tristeza má, é uma tristeza necessária, daquela que, de vez em quando, nos faz pensar no que realmente é importante.
Beijo

Unknown disse...

Sentir-se triste,de vez em quando,é normal,mas,não se entregue à tristeza.Não se atormente com seus pensamentos.Afasta a tristeza para longe de ti,pois ela não tem utilidade alguma.A alegria do coração é a vida do homem.(Eclesiastico,30,22-25).Não gosto de ver ninguém triste.Ânimo,menina!Reaja!Respire fundo e vá em frente!

Amanda Machado disse...

É verdade, Ana! Acho que faz mesmo parte do que é viver...beijo

Amanda Machado disse...

Não, Não entrego não Sandra. Só espero passar, sempre muito confiante da sua transitoriedade... ;)