quarta-feira, 8 de agosto de 2012

E agora essas persianas...

  É que além do gosto pessoal, tem essa analogia que insiste em me perseguir. Antes eram cortinas e eu gostava delas, fluidas, pessoais, aconchegantes, era um "lar com cortinas" e isso era seguro e isso, era o que eu conhecia. E havia tanto passado no tecido da janela, tantas luas que se refletiram, tantas estrelas que brilharam, tanta profundidade que já se instalou ali. De repente, elegeram as persianas e eu desisti de resistir. Porque reconheço que essa tentativa de manutenção das coisas do jeito que "sempre foram" é demasiada imatura, egoísta, covarde e neurótica. 

  Mas, nas persianas não há meios de acumular nem poeira, quem dirá os pequenos momentos da vida que por ali passam diariamente.  

  Olho para as janelas devidamente "vestidas", com suas "roupinhas" higienizadas, modernas, parecem escritórios, consultórios, salas de aula, mas fazer o quê, se a vida requisita mudança? E até mesmo, talvez principalmente, quando a gente mais insiste em permanecer, uma força maior nos empurra, nos move, nos tira o seguro e nos confronta com o desconhecido, o instável, que é o novo.

  - Saem as cortinas, entram as persianas! Eu escuto, não resisto, não contrario, não choro, não luto. E Deus sabe o tamanho da coragem por trás desta desistência. Feliz, sou reflexo do contentamento alheio, há de se ter generosidade com quem se ama, há de se desistir um pouquinho de si, todos os dias, para ver o sorriso de quem amamos. E, é bem isto que é o amor, não é? Ver beleza, no que antes eu achava tão desprovido de graça, só porque a gente enxerga através do olhar dele.

  Lamento pelas esvoaçantes cortinas que se foram, mas me conformo. Talvez o caminho para a maturidade seja mesmo abrir mão de algumas coisas que nos prendem demais ao que nós acreditamos ser. No fundo, continuo preferindo os cortinados românticos franceses, mas abro espaço para o prático, porque sei viver assim também e se ainda não sei, sou capaz de aprender. As janelas continuam lá, fixas, permanentes, mas as paisagens mudam constantemente, talvez sejam elas as melhores professoras.

  É noite, o vento bate na janela aberta e as cortinas não fazem mais sua dança habitual, só as rígidas estruturas se movem barulhentas, desajeitadas e tolas. Eu disse que aprendia, só não disse quando...



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