sábado, 27 de abril de 2013

Bom é não saber

  Bom mesmo é fazer o que não se sabe. Pelo menos não com teoria, treinamento, alguma ciência
estruturada. Fazer, como tentativa apenas, sem obrigação de sucesso, sem a limitante expectativa de acertar. Bom é não saber nem ao menos quem se é, o que se está sendo. Dançar é bom? Para uma bailarina profissional eu acho que não, pelo menos não o tempo todo.

  Alguns dos maiores prazeres da vida são aqueles que ainda não aprendemos ou por serem novos ou por não termos nunca nos dedicado de maneira mais obstinada a eles ou por não serem um saber científico, lógico, material. Dançar sem saber dançar é a liberdade das mais largas que conheço; cantar sem afinação é um desafio, é um desaforo que fazemos com os ouvidos alheios; pintar sem técnica alguma na infância é doçura, na vida adulta doce loucura; cozinhar sem a mínima experiência é um brinde à sorte, o que se dará desse jantar? Coloco as ervas antes do molho ferver, durante ou depois? Basta de cebola? Coloquei sal? Oferecer banquete quando se é iniciante é risco certo e, por isso, maravilhoso. Como entrada, as desculpas iniciais (nunca fiz esse prato, nunca usei este forno, mal sei ferver a água) e de sobremesa a expectativa leve, sem compromisso (voltarão? Alguém repetirá?).

 Quem não sabe, logo não tem obrigação, não tem medo, não gera expectativas. Faz apenas pelo prazer do instante da criação, se algo virá depois, isto é absolutamente irrelevante. Ser amigo de quem você nem sabe se é mesmo seu amigo; não saber se é amado ou nunca ter amado e mesmo assim amar sem medida. Não estar certo de nada, se é bonito ou feio; inteligente ou  idiota; esperto ou ingênuo, fraco ou forte; frequentemente, se é os dois, portanto, não saber o que se é, é a sabedoria maior; o saber do não saber. Liberdade profunda essa da ignorância das coisas, pessoas e sentimentos. Bom mesmo é pegar o caminho desconhecido, passar pela rua nova, não saber o endereço e procurá-lo, não saber como se criar um filho e tê-lo, nunca ter tido um animal e cuidar de um cachorro, é dar afeto sem saber se o objeto da sua doação merece, de fato, bom é não saber se vai resistir, se vai durar, se acaba e quando acaba? Bom é tudo o que a gente não sabe, não entende, não conhece e, mesmo assim, atreve-se a fazer. É o tiro no escuro, sem medo de errar, é a torcida cega pelo acerto ou, pelo menos, pelo erro sem gravidade.

 Quem não sabe e tenta; faz mesmo sem saber; se arrisca; imagino eu,  está mais próximo do mundo dos felizes, mas não saber disso é importante para fazer parte do tal mundo, porque não se espera, não almeja, não ambiciona, faz no aqui e agora, algo somente por prazer. Pobre dos que têm muitas certezas, deixam de crescer, de expandir, de conhecer e experimentar outros cheiros, gostos, formas e até outros "eus", só porque já encontraram não procuram mais. Triste é quem já é e sendo não conhece a maravilha de fazer algo  que é dúvida , sem compromisso de êxito. Aprender é maravilhoso, mas só quem não sabe é que entende o que significa um prazer desse. Se sabe muito, esqueça um pouco de tudo, duvide das suas certezas e, principalmente, não se intimide diante das dúvidas, são elas que fazem de uma pessoa, alguém , verdadeiramente, interessante. Na dúvida, tente; na certeza, duvide; se errar, sorria e siga; erro mesmo é fazer somente aquilo que se sabe, só pela garantia do velho, enfadonho e previsível acerto.



6 comentários:

Ana disse...

Gostei muito deste teu post e já tenho tido muitas discussões com pessoas por causa disto. Eu prefiro assim mesmo dar-me e conversar com pessoas que já batera muito de frente, que fizeram e falharam, fizeram e acertaram mas fizeram. Aquela coisa de se viver na zona de conforto porque é bom ou porque se receia a opinião alheia é coisa que me chateia muito.esta vida sem risco não teria piada nenhuma, o bom de andar cá é precisamente nunca sabermos nada, tudo ser imprevisivel, a vida dar uma volta completa em menos de nada, para o bem e para o mal. O certo é abraçarmos o que aparece, arriscarmos sem medo de falhar, sair da zona de conforto, tentar, isso é tudo, é a liberdade pura:)
beijinhos

Amanda Machado disse...

Acho isto também Ana, buscar segurança sempre na vida, seja na profissão, relações, ou sentimentos abre-se mão da liberdade e enfia-se em uma prisão....é preciso não saber para aprender a vida. Beijo bom final de semana ;)

Anônimo disse...

Obrigada pela dica... às vezes canso da minha prisão e acho que ela é a única possibilidade e não uma escolha...

Anônimo disse...

Ameeeeeeeei demais Mand!!!!!

Amanda Machado disse...

Bem, não foi exatamente uma "dica", só mesmo uma pequena reflexão, mas sim,frequentemente nós é que seguramos a chave da nossa cela. Beijo!

Amanda Machado disse...

Ui que bueno!rs ;)