quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

A dor que não mata, ensina

  Falo das dores subjetivas das de amor, de amigo, das mágoas malucas que a gente vai arrecadando por aí ao longo da vida (deveriam ser opcionais, mas a gente insiste em fazer delas obrigatórias...como se a nossa existência só fosse "autenticada" a partir delas). Porque a gente é dramático, porque em alguns dias acordamos com uma maturidade inerente a de uma criança de 5 anos, porque a gente tem TPM, porque a gente quer "ter razão" para "desqualificar" o sentimento do outro (eu fui fiel, honesta, leal, disponível. Já o outro é insensível e ingrato); a gente quer o tempo todo ser "mais gente" do que os outros, amigos, família, parceiros. E para isso a gente se ofende e sofre, sempre com uma justificativa na ponta da língua e sucumbe a uma dor (des) necessária. 

  Não é necessária, porque na maioria das vezes é meio inventada, meio justificativa para uma infelicidade qualquer; mas a partir do momento que a tornamos obrigatória, então que ela ensine. Não ensine a gente ficar mais receoso, desconfiado, reticente a tudo e a todos, amargurado, fechado. Mas, pelo contrário, ensine a gente a ficar mais corajoso. Doeu daquela vez, não doeu? Você sobreviveu, não é? Então pronto, você é forte, é poderoso, é um gigante que deve seguir conhecendo, reconhecendo, perdoando, pedindo perdão, sendo fiel, leal e aquilo tudo que você quer, acha ou realmente é; enfim: segue amando!

  Dor da alma é como dor no corpo (reveza entre o agudo e latente e o sutil e contínuo), mas uma hora acaba e a gente reconhece que foi forte, porque lembra que doeu e superou e se torna incapaz de lembrar a sensação "clara" da dor de fato. 

  Há alguns anos tive um pequeno problema nos joelhos e depois de uma recuperação longa, tive alguma sequela (pequena eu acho), durante algum tempo fui incapaz de ajoelhar e reclamei com o ortopedista que me acompanhava que tinha essa limitação (ele próprio limitou muito minhas atividades físicas, que na época eram inexistentes, mas provavelmente em função dessa "proibição" eu passei a desejar ardentemente a prática de qualquer atividade, principalmente as de impacto), ele disse que o fato de não ajoelhar era apenas um "efeito colateral"; e eu entendi que eu deveria ser grata por "só" não conseguir ajoelhar.

  Algum tempo passou e eu fui entendendo que o meu "medo de ajoelhar" era maior que a limitação física, aos poucos fui "treinando", testando, ensaiando até ajoelhar...passei a caminhar lentamente, depois mais rápido e eventualmente corro, na maioria das vezes sem dor alguma. Fui conhecendo as minhas dificuldades aos poucos, e fui desenvolvendo minhas habilidades também lentamente, e isso só porque eu fui me "distanciando" do medo, minhas lembranças de dor foram ficando menos nítidas, as "cores" com as quais eu pintava meu sofrimento físico foram desbotando...

  Então, o ideal é que a gente não deixe nada nos doer tanto, mas sabendo que esse é o tipo de conselho completamente clichê  e dispensável (porque ninguém segue mesmo!), então, paciência...a dor passa e aos poucos, quando você também deixar o medo para trás, irá se restabelecer...eu juro! Foi a minha dor que me ensinou.



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