terça-feira, 13 de março de 2012

E porque estava numa camiseta...

  Saio do Yoga, corpo e mente confortados, massageados e em uma sensação de paz, completude e contentamento...bem, até voltar para o ambiente comum, não-isolado, sem as "condições especiais" do qual saio para enfrentar a vida real. E este é o desafio: trazer comigo as mesmas sensações, agora no ambiente externo.
  Chove, a bolsa pesada não tem nenhum guarda-chuva (porque pesaria mais), a sandália recém comprada machuca os pés (Já intensamente marcados, castigados por outros sapatos, que já foram novos também); não posso ficar eternamente na galeria, resolvo sair debaixo da chuva mesmo, no primeiro passo fora da cobertura, levo um pequeno escorregão (as sandálias tem o fundo liso. Nada de andar debaixo da chuva!). Resolvo pegar um ônibus, o trânsito da cidade está confuso, pontos lotados, avenida em reforma (Cheia de buracos, que agora estão cheios de água e logo, serão lama), depois de alguns minutos debaixo de chuva um carro para, para eu passar e outro e outro (e essa delicadeza cada vez mais rara, me surpreende) atravesso a rua apressada (mas sem correr, não quero cair. Sempre penso numa morte bizarra, do tipo "caiu na rua, bateu a cabeça no meio fio e...morreu!") porque já vejo o "meu" ônibus parado no ponto. E ele já estava saindo, quando o motorista me vê, para, abre a porta e eu entro radiante (cabelo molhado semi-preso, barra da calça encharcada, camiseta torta, molhada, a alça da bolsa arrebentada. Mas, radiante...estava no ônibus, e isso era tudo o que eu queria, pelo menos naquele momento). 

  Ônibus apinhado de gente, de todo os tipos, voltando ou indo aos lugares mais diversos: trabalho, escola, viagem, passeio, compras, encontro, cinema...idades, cores, expressões variadas. Vou passando os olhos em tudo...até que meus olhos param numa camiseta de uma adolescente, que já se preparava para descer, a frase na camiseta era "The life's an Beach". Já li tanta coisa sem sentido nessas camisetas, que, em um primeiro momento, penso ser mais uma camiseta com frase estrangeira sem o menor sentido. A menina desce, mas deixa a sua frase comigo. - E, por que a vida seria uma praia, gente?

  A analogia me parece difícil, porque praia nunca me foi mesmo muito familiar. Rio, montanhas, mato essas coisas me parecem mais próximas, mas praia? Penso na "praia de temporada", a praia das férias, lotada de gente (como o ônibus que eu agora estou), a gente vê todo mundo, mas "enxerga" poucos (em multidões é difícil se fixar em alguém); espaços limitados, atitudes mais "restritas", alguém fica na areia para "cuidar dos seus pertences" e "lugar", enquanto você entra na água, assim cronometrado, assim sincronizado. Alguma diversão, alguma chateação e muito cansaço...the life's an beach!

  Penso na "minha" praia. Na minha  favorita. Fora da temporada, pouco sol (Sim, tenho algum trauma de tentativas frustradas de bronzeamento, de verões passados...), pouca gente, muito mar, muita areia, tempo para fixar o olhar na paisagem, nas poucas pessoas que compartilham do lugar comigo, as ondas, agora mais vazias, possibilitam a gente observar seu movimento, sua intensidade, lugar de liberdade...the life's an beach.

  Hora de descer do ônibus, agora já bem mais vazio, a moça da camiseta eu mal olhei, mas sua camiseta faz todo sentido. A vida é uma praia, que muda conforme a estação. A vida é uma praia, se no momento ela não lhe agrada é só esperar a próxima temporada ou que a temporada acabe. A vida é uma praia, cuja paisagem continuará quase intacta, ainda por muito tempo, muitos vão chegar e depois irão embora, mas a praia é para sempre aquela que você conhece. A vida é uma praia, rodeada de belezas, algumas mais escondidas, só esperando a perspectiva generosa de algum banhista com o "olhar mais treinado". A vida é uma praia, se hoje o "mar não estava para peixe", amanhã pode ser que esteja...
 Algumas camisetas em inglês tem mesmo algum sentindo.


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