terça-feira, 20 de março de 2012

"Um sonho que eu não queria ter sonhado..."

  Saio do Yoga hoje, louca, alucinada, quase disposta a "atropelar" qualquer outro transeunte a minha frente. Normalmente volto muito, muito calma, chega a ter dias que pareço voltar "voando!". Muito leve, tomada de uma energia benéfica sem igual. Mas há dias, que tudo o que quero é voltar para casa... é quando sou uma moto cortando os pedestres mais despreocupados, chego a "fazer ventar" cabelos, roupas e bolsas alheias. 

  E hoje, eu já sabia, era o "dia da moto" (e só por isso o elevador demora, o sinal demora, as pessoas andam mais lentas do que de costume...). Entro no elevador, só uma garota de uns 9 ou 10 anos, com a sua mãe (pelo menos parecia ser mãe, dada a intimidade, informalidade e um certo "ar amoroso" no espaço.).Ouço um pedaço do diálogo entre elas, quando a frase, das mais reveladoras que tenho conhecimento, é dita: "Foi um sonho que eu não queria ter sonhado!". A sublime frase veio da mulher mais jovem do elevador, da menina de uniforme. Pelo contexto da conversa, o sonho ao qual se referia era um desses de se "sonhar à noite". Essas imagens, sons, situações desconexas, que, às vezes, nos perturbam seriamente.

  O elevador abre, demoro um pouco a sair, a frase ecoa na minha mente, até então, perturbada pelo desejo de regresso à casa. Esqueço pressa, yoga, meditação, buzinas, semáforos. Esqueço, inclusive, a razão do afobamento. Em frente à avenida a ser atravessada eu repito, numa voz baixa, mas que gritava muito alto dentro de mim: - Sim, era um sonho, que eu também não queria ter sonhado! Atravesso a rua, queria correr, para fugir da frase, da constatação, do semi-medo. Mas, do que adiantaria correr? A frase substituiu instantaneamente o mantra novo que eu acabara de aprender, "para acalmar o coração", a professora tinha dito. Eu precisaria de 100 mantras mais, para substituir a aflição que a frase despretensiosa da menina me fizera sentir.

  Subo a avenida a passos rápidos, mas não tanto quanto havia presumido. Minha cabeça recorda cada sonho, que eu desejaria nunca ter sonhado. Imediatamente Kate Winslet e  Dicaprio invadem minha mente, num filme que eu nem lembrava antes, ter assistido, "Foi apenas um sonho". Diante do fracasso dos seus planos e sonhos, vejo as duas loiras carinhas devastadas; a não-realização daquilo que andavam certos de que os "salvariam" foi o que os levou a definitiva derrota. A menina do elevador, Kate, Dicaprio e eu, tudo o que a gente não queria, era não ter sonhado aquele sonho...que mantra é capaz de acalmar o coração aflito de quem subitamente se vê diante dessa sensação?


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