sexta-feira, 6 de abril de 2012

Talvez seja o tal "tempo da delicadeza"

  Ando surpresa com o meu grau de sensibilidade ultimamente (por favor, não falo de fraqueza. Aliás, a verdade é que nunca me senti tão forte, e a sensação é de que essa força só aumenta com o tempo...).  Não que eu fosse ou parecesse alguém, que não se deixasse tocar pelos sentimentos, mas o caso agora tem me parecido verdadeiramente assustador. 

   A super população de joaninhas que resolveram "invadir" meu quarto (onde elas mais tem aparecido aqui em casa) me emociona; alguns e-mails e fotos antigas, que eventualmente (re)visito, tem me comovido; ter visto o antigo colega de sala, por quem tive sempre tanto afeto, no telejornal local, quase resultou num "ataque cardíaco" (um dia compartilho o "desfecho" de uma história que comecei a contar aqui sobre ele); um texto; um livro (atualmente a biografia de uma diva hollywoodiana); um filme ou até mesmo uma cena...são "eventos" passíveis de me levarem se não ao choro, pelo menos a uma comoção, meio assim, patética.

  Acho que estou cada vez mais próxima de algo, que sempre olhei com olhos muito críticos: a sensibilidade em público. Não, não tenho protagonizado cenas bizarras de choros incontidos, com face assombrosamente encharcada ou achaques neuróticos. Mas, temo que seja só uma questão de tempo...

  Quando eu era menina, frequentava a mesma igreja que uma senhora muito fervorosa do meu bairro. Tamanha eram sua fé e devoção, que toda vez que eu a olhava, durante qualquer celebração, me assustava com a sua capacidade de produção lacrimal. Mais do que lágrimas, sua intensidade emocional era única, chorava muito, sorria muito (às vezes, as duas coisas ao mesmo tempo), falava sobre o místico com tanto entusiasmo, que por vezes a voz lhe faltava e mais exaltada ela ficava...
  Era uma mulher, que cultivava algum respeito dos outros devotos, admirada por sua dedicação e fé, mas por outro lado, era, por vezes, alvo de críticas, piadas e até alguma censura dos outros fiéis. Imersa em seu amor e devoção, mas atenta ao "incômodo" que seu comportamento causava na comunidade, a mulher passou a frequentar as igrejas dos bairros vizinhos. Naquela época, talvez tenha sido a solução mais sensata. Mas, a verdade é que as celebrações na igreja do bairro, para mim, perderam muito sua beleza.  A lembrança da fiel emotiva agora me conforta. Só hoje, tenho alguma compreensão; talvez não fosse histeria ou desequilíbrio, é possível que ela e, agora eu, estejamos apenas vivendo em um "tempo da delicadeza", só isso.



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