quinta-feira, 31 de maio de 2012

O que poderia ter sido

  Não é o ideal, não é o melhor caminho, mas quem, vez ou outra, não pensa no que poderia ter sido, se tivesse escolhido um caminho diferente ou se os caminhos disponíveis fossem outros?

  O rapaz simpático, de família circense, conta que trabalhou neste meio até os 20 anos de idade, saiu, iniciou uma faculdade de direito, abandonou, iniciou outra e hoje é professor de matemática (ótimo professor inclusive). Sua disponibilidade e afeto pela função escolhida é visível, assim também, como é evidente sua satisfação quando fala da  sua escolha pessoal. Mas, ao mesmo tempo, depois da sua incrível história resumida, deixa escapar que a dúvida sempre o acompanhará: "Podia ser tanta coisa, nesta vida, e agora estou aqui dando aula de matemática". Ele solta a frase, assim quase que involuntariamente, sem amargura, sem arrependimento aparente, só a dúvida coletiva: O que teria sido?

  Tento, porque sei que é mais "saudável", mais generoso e, principalmente, mais inteligente, não pensar muito sobre os caminhos que tomei ao longo da vida. E se a faculdade fosse outra, aquela para qual prestei vestibular, passei, mas não cursei, por pura falta de confiança? Não fui, não sei, nunca saberei.

  O rapaz bonito, inteligentíssimo, prestes a se formar, tem sua vida abreviada tragicamente por um acidente de carro. Logo ele que não dirigia, nem vivia perigosamente. Deixou uma mãe ferida permanentemente, irmã com prejuízos emocionais visíveis, um pai, cuja dor da perda, acelerou o processo da sua doença, levando ao seu encontro (?) meses depois, deixou noiva apaixonada, não conheceu a sobrinha adorável. A vida dos outros seguiu, sem ele, porque não há outro remédio. O pai se foi, a mãe ficou partida, a irmã se tornou carente de afeto e família, a sobrinha que não conheceu e a noiva que se casou com outro; já separou-se e irá se casar novamente nos próximos meses. O que teria sido dele, se ele sobrevivesse? E se ele não estivesse naquele automóvel? O que teria sido dele e dos outros? O exercício da suposição só é doloroso, pois não há possibilidade para passado algum. Já está feito, já está cristalizado. Não há possibilidade de mudança no que já não é mais.

  Mesmo consciente de que o que foi não se pode mudar; é inevitável pensar no que seria, ainda que não seja recomendável. Tanta coisa que poderia ter sido e não foi.  Fernando Sabino, um dia, também lamentou: "O diabo desta vida é que entre cem caminhos temos que escolher apenas um, e viver com a nostalgia dos outros noventa e nove." E são bem esses noventa e nove que nos nos tiram o sono e, ao mesmo tempo, nos levam a sonhar...


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