sexta-feira, 4 de maio de 2012

Prodigiosa ou pertubadora? Depende da situação...

  Se há uma qualidade que possuo e cultivo, desde a mais tenra idade é a capacidade de guardar informações. Por outro lado, se há um defeito que me persegue desde os tempos mais remotos, é a minha incapacidade de esquecer qualquer episódio mais traumático. Benção ou castigo, sigo guardando (absorvendo, analisando, julgando) fatos, especialmente detalhes (aqueles de que ninguém mais se lembra). 
  Tenho uma memória pouco seletiva, lembro-me, inclusive, de fatos, pessoas, eventos, que, inicialmente, pouco significaram para mim. Por isso, ser lembrado, por mim, não significa necessariamente ser "gostado" por mim. Pode bem, ser o contrário.

  Dia desses, depois da lembrança de um acontecimento banal de infância, minha prima desafiou-me a lembrar de detalhes dos mais variados e remotos eventos familiares  e surpreendeu-se (chocou-se, disse ela) com a capacidade da minha memória. De qualquer forma, segundo ela, qualquer coisa que eu dissesse valeria apenas pelo meu testemunho, afinal ela jamais se lembraria de tantos detalhes...

  Minha memória, de fato, é quase ilimitada. Lembro de datas de aniversários, de pessoas com as quais nem mais convivo; de notas de provas muito antigas;  da primeira palavra que li, quando estava sendo alfabetizada; do primeiro livro que li; dos candidatos que votei em todas as eleições (de presidente à vereador); os nomes dos animais de estimação de amigos ou vizinhos; de fórmulas de química e física, que mesmo sem saber quando e como utilizá-las, sempre me recordo do professor ao quadro, lembrando da importância de tais "enigmas" (a cena continua na minha cabeça depois de uma década, para quê?).

  Por outro lado, se alguém me faz o pedido de esquecer algo: alguma palavra impensada, uma atitude mal calculada, um gesto intempestivo ou alguma situação, que necessite de sigilo; posso até relevar, ser prudente e discreta, mas esquecer não é  coisa para esta vida.

  A tal "memória de elefante", já me rendeu boas conquistas: notas em prova, admiração, lugar cativo, entre os declamadores de poesia e atrizes do colégio. Mas, já me colocou em situações difíceis,  nas quais meu depoimento ganhava certo "peso" e a "justiça" se baseava na minha capacidade de absorver informações diversas.

  Contudo, com o tempo, aprendi, que além das duas faces possíveis "qualidade" e "defeito", minha capacidade de apreender informações, muitas vezes, requer muita precaução, principalmente no que diz respeito a subjetividade. Minha memória é basicamente fruto das minhas sensações, o que vejo não é algo objetivo, estático, pelo contrário, é , também uma forma de julgamento; em cada ação observada há embutida uma opinião.

  E apesar de não ter aprendido a esquecer, tenho aprendido a "parecer" que esqueci. E isto sim é a verdadeira  dádiva.


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