Reencontro sem necessidade de constrangimento. Da minha mesa só alguns poucos olhares, dois ou três,
durante uma noite inteira, da dele, um olhar, só um perceptível e conhecendo-o, foi só este mesmo que ele lançou. Não surpreendeu-me, sabe? Não me magoou vê-lo de vida refeita, melhor, mais seguro, maduro e acompanhado; não é o primeiro reencontro. Já o vi nestas "vidas novas" tantas vezes e o verei mais, quando menos esperar, sua vida próspera desafia a minha pobreza. Na primeira hora, logo que o vi, quis muito que ele não me reconhecesse, não me visse e se visse poderia mentir que não viu. Na segunda hora, desejei que me visse, mas não viesse me cumprimentar, eu não o cumprimentaria, jurei. Da terceira hora em diante, o coração dividia-se entre os dois outros desejos: me veja, não veja; venha, não venha.
"Natural é as pessoas se encontrarem e se perderem", Caio diz para mim com a sua voz bêbada. Para mim, natural sempre foi a perda, até perder o que não se tem, o encontro é que sempre surpreendeu-me. Surpreendeu-me de não saber o que fazer com aquilo tudo, aqueles sentimentos novos, planos de futuro, olhares profundos, horas que voavam incansáveis. E não sabendo o que se fazer e querendo muito fazer algo, faz-se "errado"; ora protegemos demais, ora nos expomos em demasiado. Natural agora é ver alguém na mesa ao lado e admitir a distância infinita, é permanecer sorridente, quando tudo que se quer é correr, fugir, ir embora ou esconder-se debaixo da mesa.
Pensava mesmo que estaria protegida por nunca doar-me toda, o caso é que no primeiro encontro eu premeditei a perda, por admití-la natural. Agora, aqui da mesa, deixo o copo de cerveja e seguro um coração, que insiste em disparar e admito o quanto sou constantemente ferida por ter tanto pudor em doar e nenhum em receber. Fiz dele meu e ele nem sabe. Não o devolvi nunca e ele também nem desconfia. Sua acompanhante, mulher, namorada ou amada, não pode tê-lo inteiro, porque há aqui comigo uma parte que quer ficar. Não. Acho que eu é que a aprisiono, insisto em fazê-la refém. Devolveria se soubesse como, sem resgates, sem lista de exigências, só abriria a porta e eu também teria liberdade. Acontece que eu não sei por onde começar.
O drink colorido afoga a minha miséria, torço para tê-lo matado também aqui dentro. Amanhã, uma ressaca do que não foi, nunca será; é a única garantia que eu posso ter. Ele me viu, eu o vi. Nos vimos e ele não veio, eu também não. Volto para casa com a esperança de sempre, a de tê-lo deixado escapar do cativeiro, enquanto eu bebia quase distraída com as amigas.
2 comentários:
Eita...além de escrever vc tb disfarça bem!!! ;) Que lindo, sensível e real...por isso sempre nos identificamos tanto com o que lemos aqui!!! outro drink colorido no finde e mta história pra contar...
;)
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