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Gastava grande parte do seu tempo com desculpas inventadas para recusar convites. Não queria que se magoassem com sua necessidade de solidão, não era a recusa de um acompanhante, era só a aceitação de sua própria companhia. Achava demasiado desconfortável gostar tanto de algo, que para alguém não era nem um pouco prazeroso. Dividia noite e dia entre os outros e a si própria e achava mesmo que ia bem.
Agora, o menino do lado também brinca solitário, desvenda o incrível jardim da avó e também acha caramujos, salta pelos canteiros de verduras, brinca de ser adulto e acho que seus diálogos agradariam na brincadeira da menina. Sozinho ele tem um universo invejável, tão vasto quanto o dela.
Como a menina e o garotinho da casa ao lado acho mesmo que algumas atividades podem e devem ser feitas de maneira individual. Acho que o sujeito que leva a si mesmo para passear, ir ao cinema, jantar, descobrir sebos escondidos, ver o céu e a chuva se enriquece com as descobertas que a própria companhia é capaz de proporcionar. Mas, por outro lado, tenho achado que a escolha por si, tantas vezes é a falta da companhia certa. A menina e o garoto, é um desses casos, se fosse possível que se conhecessem acho que gostariam muito de brincarem em dupla, mas por acreditarem que o jeito com que brincam são únicos e não agrada aos amigos, sem opção, escolhem a si. É como se gostassem da solidão porque não tivessem encontrado, ainda, alguém com quem pudessem compartilhar de um gosto.
Agora é noite, a menina há muito não vejo, a casa ao lado já silenciou e por isso acho que o menino dorme. Gostaria que se conhecessem e que juntos caçassem caramujos, brincassem de jardineiros e imitassem adultos, seriam convincentes um ao outro. Mas, estão solitários e acreditam ser passageiro, um dia serão crescidos e se acostumarão a conservarem um universo sem visitas, dirão ser escolha, mas não sabem que fora do jardim da avó e do quintal da mãe existe alguém a caçar caramujos tão solitário quanto eles. Quem muito escolhe somente a si, talvez termine por ser sua única opção. Talvez.
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