terça-feira, 29 de outubro de 2013

No lugar, a falta.

   Acordo no meio da noite com o sinal de uma mensagem no celular, a TV ainda ligada, o controle quebrado que nunca conserto, procuro a tomada perto da cama, não acho e desisto, quase esqueço da mensagem antes de voltar a dormir. Procuro o celular no criado-mudo. Não reconheço o número, não compreendo a mensagem, talvez seja para a pessoa errada; em casos como esse eu costumo avisar, mas o sono não me deixa escrever palavra alguma.

  Parece, que de algum modo,  tudo nos chega depois, atrasado. Palavras, pessoas, conclusões, elas nunca chegam quando precisamos demasiado delas. Vêm depois, chegam quando não têm mais serventia. Os outros sempre nos faltam e nós também faltamos, frequentemente, aos outros. E se alguém precisasse dessa  mensagem que agora eu tenho, de algo que não me diz nada, mas que para alguém talvez seja sua grande ausência no momento exato?

  O canal reprisa uma entrevista antiga de uma moça loira, só compreendo uma frase: "tenho compromisso com a felicidade". Procuro o celular novamente, alguém precisa ser feliz nessa madrugada. Escrevo: "Engano. A mensagem foi enviada para a pessoa errada". Alguns erros de digitação, duas tentativas de envio e fiz minha parte. Eu, a pessoa errada. Admitir ser a pessoa errada não me afeta, não hoje. Eu que tenho  quebrado minhas próprias regras, me repreendo. Preciso aprender a ser a pessoa certa. Eu quero ser a pessoa certa.

  A pessoa certa deve estar recebendo sua mensagem agora. O pensamento me consola, tenho parte nisto, na felicidade alheia. Esta noite tenho compromisso com esta felicidade.

  Acho a tomada, desligo a TV e fecho os olhos, ainda penso na frase da moça, na entrevista. Antes de voltar a dormir, outra mensagem, esta não leio. Volto ao meu sono e penso na frase da loira: compromisso com a felicidade...um sonho inteiro só para o clichê. Lugar comum ou não, é um bom lema. No outro dia leio a mensagem. A última tem o meu nome. Eu era a pessoa certa. A mensagem é que chegava com atraso. Ainda sorrio pelo engano, mas quando as palavras chegaram era eu quem não estava mais lá. Certos atrasos podem ser superados, outros vêm tarde mais para que nos alcance.




4 comentários:

Anônimo disse...

Simplesmente perfeito!!! "Qdo as palavras chegaram era eu quem não estava mais lá"... Adorei demais!!! Ass: sua fazona... ;)

Amanda Machado disse...

;) Beijo!

Ana disse...

É triste e doce ao mesmo tempo quando a vida nos atrasa e quando atrasamos a vida, ainda ontem pensava nisso ao ver o vanilla Sky...

Amanda Machado disse...

Triste, doce e, por vezes, inevitável...nem sempre estamos sincronizados como gostaríamos...