quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Da próxima vez

  Quando disser que vai embora, da próxima vez,  só vá; tente não olhar para trás e se olhar, tente não se arrepender. Porque desde o momento que você ensaiou a partida, ainda que eu chorasse, eu já estava mais ou menos consolada no meu próprio luto, mas o caso é que você voltou. Porque não queria me deixar chorando, porque não estava certo que era a melhor decisão e então, matamos, os dois, um amor que só estava doente, que talvez se recuperasse e virasse outra coisa. Mas disse "adeus" e voltou, não existe erro maior; é como prometer a uma criança um passeio ou presente e não fazer, não dar, perde-se a confiança. E depois, meu coração de luto, nunca o aceitou como antes, ele até quis, tentou, ensaiou e fingiu um estado que nunca pode ser reconstruído. Ele, eu e você éramos outros. E a gente enterra um amor ainda vivo, por vingança. A verdade é que eu nunca aceitei suas desculpas, eu nunca fui empática a nenhum dos seus argumentos, só escutei, escutei, sem permitir que meu coração se abrisse de novo, porque eu merecia uma revanche, eu queria dar o troco e, dei!

  E, não, eu não me sinto melhor depois disso, eu nunca me senti. Eu nem sei o que eu tenho sentido, nem raiva, nem arrependimento, nem amargura, nem nada. Eu não senti nada, entende? Então, porque voltou? E porque eu deixei que voltasse?

  Porque somos fracos, porque fomos covardes de não seguirmos sem a nossa aparente segurança, sem a minha mão na sua, sem o seu ombro para minha cabeça, sem um ao outro o tempo inteiro. Poderíamos ser um pouco um do outro, mas quando escolhemos "o todo" e rejeitamos a parte, acabamos com tudo!

  A gente não mata o amor porque odeia. Mas mata porque quer odiar. E do amor morto não nasce o ódio. Aprendi isso há pouco. Do amor assassinado, nada nasce. Não nasce porque amor morto é infértil, não é capaz de gerar absolutamente nada, nem ódio.

  Ontem, subindo a rua da nova casa eu lamentei cada lembrança que não teremos juntos, cada episódio que não poderemos mais compartilhar da nossa história. Porque tudo acabou daquele jeito insano, selvagem, daquele jeito que a gente passa a recusar cada lembrança, fingir que ela nunca existiu, que nunca fizemos parte um do outro. Então, quando perguntarem de você falarei com um ar blasè: - Não foi importante. E se disserem meu nome à você, você fingirá se esforçar para lembrar quem eu sou e dirá com desprezo: - Ah sim, dela lembro bem pouco. E mentiremos, enganaremos os outros, invalidaremos a importância que cada um teve na vida do outro e tudo isso, porque você disse aquele adeus e não foi.

  Da próxima vez, despeça e vá. Da próxima vez, quando ameaçar sair pela porta eu irei correndo e a trancarei, sem chance alguma de um novo olhar. Para almas perturbadas como as nossas só uma volta na chave e pronto. Mais tarde, poderemos de novo, sermos um pouco um do outro. Da próxima vez, com a próxima pessoa, porque nós já não somos mais nós. Deixamos de ser quando a coragem nos largou.




Um comentário:

Ana disse...

Acho que o mais corajoso que pode acontecer numa relação é as pessoas term noção do seu fim, deixarem-se quando ainda pode resultar algo de bom, sem ser ressentimento. Ficar com alguém só porque sim é atroz, especialmente se o outro nos ama.
beijinhos