sábado, 7 de dezembro de 2013

Próximo ano?

  A rua é a mesma dos últimos anos -  minha passagem diária -  o tênis de corrida ainda resistirá mais alguns quilômetros, a música também não é nova, apego-me às antigas e quase não dou lugar para as recentes -  talvez seja esta um questão a ser resolvida. O suor que quase sempre liberta, cura e modifica; os semáforos religiosamente respeitados; as batatas em promoção na porta do mercado; a loja que conserta estofados, da qual tanto gosto; o ipê amarelo com flores; a casa rosa sempre fechada  - a beleza deveria ser exaustivamente compartilhada, mas não se tem segurança nesta cidade há tempos... Uma pena! - e entre o intervalo de uma música e outra, as vozes que agendam um compromisso para o próximo ano. - Mas só ano que vem? Atrapalho-me, por um instante, com o calendário. Ano que vem é logo ali, se esticar um pouco o olhar, já é possível vê-lo apontando.

  Do lugar onde estou, muito pouco se vê dele, talvez uma sombra, um indício, mas espera-se muito. Na verdade, tudo. Como esperamos por esse, que já despede-se atabalhoadamente e por dos os outros passados. Até sabemos que as expectativas são altamente perigosas, mas como não tê-las? Se são as esperas que, frequentemente, nutrem nossos mais profundos suspiros. 

  E do ano, sobre o qual, as vozes casualmente me alertaram da  proximidade, tenho esperado muito, não tanto dele, cujo poder é bem limitado, mas nele. Tenho esperado muito nele e não dele, o que parece-me ser bem mais acertado. Esperando mais: "O problema não sou eu, mas você mesmo", porque a mentira até evita as mágoas, mas não estimula crescimento algum. Esperando: "Não chego aí em cinco minutos, mas em meia hora , fique à vontade para ir embora se não quiser me esperar"; "O trânsito estava ótimo, atrasei mesmo, porque dormi demais"; "Não está tudo bem, mas vai ficar". "Fiquei decepcionada sim com você, mas posso superar".

  Esperando mais sorrisos de desconhecidos, disponibilidade dos conhecidos, delicadeza dos íntimos e verdade de todos. Esperando mais o que se é e menos o que gostaria de parecer ser.  Esperando a cura para todo mal ou, ao menos, alguma suavidade em cada sofrimento. Esperando menos amanhã e mais agora. Menos "não estou" e mais "estou, mas não quero falar agora". Mais perdão e menos mágoa, mais clareza e menos confusão, mais aceitação e menos plásticas, mais favor e menos obrigação, mais graça e menos cara amarrada, mais gratidão e menos reclamação, mais comer bem e menos dieta, mais qualidade e menos números, mais diversidade e menos "mais do mesmo", mais palavras e menos consumo. Mais rua, abraço, gosto, barulhos e rostos sem filtros e menos escritórios, apartamentos, "me liga!", som sintetizados, imagens elaboradas e mensagens em redes virtuais. Espero o que fomos de verdade, mais do que damos diariamente, menos economia de vida e afeto, mais riscos, menos rupturas, mais disposição e bem menos preconceito. 

  Mais paciência, no lugar da intolerância, a modéstia, substituindo a soberba, a alma do negócio no lugar da propaganda; menos trancos e barrancos, lero-lero, tico-tico no fubá e mais abaixar a bola, para cima todo santo ajuda e arrebentar a boca do balão.

   Espero tudo em um ano que me jogam na cara, enquanto eu corro. Tudo isso em meio mês, porque espera boa é aquela que a gente sabe que pode mesmo chegar, que é mais que sonho, é projeto de vida; é menos projeto e muito mais vida.


2 comentários:

Luciene Rroques disse...

Tenha uma excelente semana.
Um grande abraço!

Ana disse...

não sou pessoa de fazer resluções de ano mas vou fazendo quase ao dia:) mesmo que a maioria não seja cumpridam fazê-las é bom, sabe sempre a recomeço, é o contrário de estagnação. um bom 2014 para ti:)