Ela desarmamento, ele com mil lanças e um escudo. Ela cigarro antes do café, ele omelete sem sal, pela manhã. Ela sorvete de creme com rabanada, ele açaí, na sobremesa. Ela sexta à noite, ele sábado à tarde. Ela vermelho, ele verde e amarelo. Ela força centrípeta, ele força centrífuga. Ela Engenheiros do Hawai, ele Abba. Ela embate, ele resistência. Ela flexibilidade, ele velocidade. Ela Vasco, ele Cruzeiro. Ela dois irmãos, ele filho único.
Ela em cinco minutos, ele há quinze de espera. Ele Professor Pardal, ela Pernalonga. Ela caminha, ele dirige. Ela rinite, ele cálculo renal. Ele não vou, ela não foi e não avisou antes. Ela Carnaval, ele Natal.
Eles olhares, eles rodopios, eles beijos, eles na minha casa ou na sua, eles tanto faz. Eles nossa casa, eles posso cozinhar e você lavar, eles vamos marcar férias juntos. Eles vamos ter um cachorro e um filho, eles primeiro o cão, depois o bebê. Eles banana prata na geladeira e granola na despensa. Eles cactos e um bonsai do hipermercado. Eles lençol, fronha e panos de prato. Eles cappuccino em casa é mais barato. Eles economizar para o futuro - ela que futuro? - mas melhor não dizer nada. Eles sem elevador o condomínio é mais barato, as mães deles não aguentariam mais de dois andares; eles térreo, pela primeira vez.
Eles muitos livros sem nome, tudo nosso. Eles cada um com seus amigos, seus programas, sem ciúmes. Ele um pouco, ela também, mas não falemos disso agora.
Ela cinema, ele não. Ela casa da mãe, ele não. Ela música regional, ele não. Ela domingo vai, ele não. Ela dá a mão, ele não vê. Ela chora, ele não pergunta. Ela a manhã inteira fora, ele dorme e não sente. Ela sente, ele abana a cabeça.
Ela sim, ele não. Ela nunca, ele sempre. Ela menstruação atrasada, ele o apartamento é pequeno demais. Ela sufocada, ele volta no quarteirão com o cão para espairecer. Ela menstrua, ele não. Ela pensa no filho que não veio e ele não quis. Ele pensa se era hora e se vai chegar a hora.
Ela congresso em Florianópolis, ele respira na varanda.
Ele filme triste, ela triste. Ele futebol no domingo, ela cama. Ele café com a ex-namorada, ela mensagem traz o pão. Ele cumprindo hora extra, ela desempregada de novo. Ele promoção, ela currículo e cursos de curta duração. Ele para sempre é longo, ela o agora é insatisfatório, talvez mude amanhã.
Ele trauma, ela terapia. Ele angústia, ela ansiedade. Eles esquecem o cão preso na varanda na tarde de calor. O cão e a desidratação, a culpa não é sua, não, é sua, não, é sua. A culpa é minha. Não, a culpa não é minha. Nem cão nem filho. Não podem compartilhar aquilo que não é vegetal.
O veterinário diz que o cachorro está bem. Eles não estão. O cão tem alta e volta para casa e eles não sabem mais o caminho um do outro. Ela fenda profunda, ele átrio cardíaco; o sangue não chega.
A ex-namorada no sonho dele, no dela, uma viagem para a Rússia. Os sobrinhos dela brincando na sala, ele tentando ler impaciente. Ela fala com ele, ele não escuta a voz dela. Ele lembra alguém que ela ama, mas não muito. Ela é o amor de toda a vida, que não parece mais ser toda.
O cão é o cuidado máximo. Nunca mais esquecimento, nunca mais desidratação, nunca mais calor intenso. Nunca mais sair sem saber onde o cão está e ouvir o seu latido. Nunca mais preguiça, frio demais ou chuva que não leve o cão aos seus passeios diários. Nunca mais descuidar da dieta canina.
Ela vou chegar mais tarde, porque estou aprendendo o trabalho; mas já aprendeu. Ele não estarei em casa, porque vou jantar com os amigos; era uma mulher quando ela passou em frente ao bar, onde ele disse que estaria. Meia mentira, meia volta. Não vale a pena o confronto.
Desarmada ela, magoada ela. Insensato ele, distraído ele.
Dia seguinte para ela, noite virada para ele. Mala na sala, dois ovos. Ela largou o cigarro e ele não percebeu que há meses a companheira não fuma mais. Ela diz busco o resto mais tarde, amanhã ou durante a semana. Ele suplica você não quer fazer isso. Ela responde vou ficar com o Jânio dia sim e dia não, quando tiver lugar para morar. Ele insiste você não precisa ir, ela diz eu preciso e você vai me agradecer por eu não ficar.
A mão incerta dela em direção ao ombro direito dele, de cabeça baixa, e depois retrocedendo de súbito, era perdão quase ofertado, mas interrompido; era culpa pela dor devolvida, era pena por vê-lo chorar e detestar que chorassem, falando o seu nome. Inevitável choro, consolo negado. Ninguém pode salvá-los dessa dor. Jânio, até logo.Menino de ouro, eu te amo para sempre. Parecia para o Jânio e um pouco também era. Ele de cabeça baixa, ela de queixo erguido para o agora.
Entre a sua mão e o ombro dele, um outro amor que saído dela nunca foi embora. Entre a fenda e o átrio, o amor jorra quando o esquecem sob o sol, trancado do lado de fora da casa e ninguém escuta os seus latidos. Jânio passa bem, mas ainda odeia os dias quentes.
2 comentários:
Minas Gerais, parece que é março dum ano dezembro
Querida Amanda,
Que música linda, que cantora é esta?!
Quanto ao texto, irretocável!
Boa semana, se assim se permitir o ar comprimido...
Um abraço
Paulo
Minas Gerais, parece que 1964 dum ano que nunca acabou
Querido Paulo,
Gostou da música??? Que bom...é desta maravilha de Nuria Mallena...temos essas preciosidades por aqui, ainda bem! Senão seria muito mais difícil existir.
O tempo tem me engolido, tenho batido menos vezes na sua porta, mas estou lá também...mesmo que de passagem...
Que bom que veio.
Obrigada!
Abraços,
Amanda
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