
rememorar presidentes, comendadores, generais e príncipes; depois respondo sem muita certeza e aponto o melhor caminho para o lugar onde não sei se é.
Mas se me perguntam o lado da calçada mais bonito, o ar mais ameno, a melhor piso para o tipo de sapato, se direito ou esquerdo para quem não quer se entregar ao sol, os portões que guardam cães de guarda, as casas cujos jardins são mais vistosos, os muros onde acontecem os beijos, os passeios de garagens onde os pais despedem dos filhos antes de saírem para trabalhar e eles os esperam, na volta. Se me perguntam em quais os pontos da rua o meu coração bate mais forte eu não demoro nada para responder.
Se antes do arranjo para a mesa me perguntam sobre a flor mais resistente, se um ou dois comprimidos de aspirina na água, se em jarra de vidro ou cerâmica, quanto tempo ela sobrevive depois de colhida, eu mostro uma toalha de renda branca e ajeito o lado mais bonito do arranjo para o meu convidado favorito ter o melhor ângulo; lamento a morte gotejada da flor e, depois, fico muda.Contrariada.
Mas se perguntam sobre o movimento do girassol, eu respondo que ele é quem escolhe. O sol gira em torno dele e não o contrário. Porque sei da sua fortaleza, da sua beleza esparramada e bruta. Os seus caules longos, que não cabem numa jarra, das suas pétalas de um amarelo tão forte, que nunca é coadjuvante. Inesquecíveis e para sempre sedutores são os girassóis.
Se me perguntam o tempo que dura um amor, o que é um amor, o que faz para saber se é amor e se é mesmo o amor que nos deixa menos incompletos, eu em busco respostas em Neruda, Santa Teresa D’Ávila, Platão, Freud, Beauvoir, Aristóteles, Drummond e com a minha tia Rosa; mas não encontro nada que caiba numa só resposta. Neruda, Drummond têm as indicações mais líricas, tia Rosa a mais pragmática e simples; ela dirá: é o que você quer que seja.
Mas se me perguntam se é mesmo amor, eu suspiro que sim, que com toda certeza é amor sim.
Se me perguntam se esse amor dura, eu também digo que sim. E é sempre o suficiente para contar uma história. Se acaba, ainda é amor; o passado também é tempo do amor.
Se me perguntam se é o destino ou a escolha que delineiam o nosso presente, se as nossas infelicidades e contentamentos são ações nossas ou de algo muito maior; eu não sou capaz de me equilibrar em certeza alguma. Desço da corda e me sento para pensar: mão no queixo, testa enrugada e lábio mordido.
Mas se me perguntam se desejar responder é escolha ou destino; suponho que nem um nem o outro e os dois, ao mesmo tempo. Escolha é abrir um porta, destino é o que terá atrás dela; escolha é fechar uma porta quando a felicidade não mora mais; destino é encontrá-la novamente do lado de fora.
Se me perguntam a previsão do tempo, eu tento me lembrar do telejornal da manhã, consulto um aplicativo, respondo que não chove e todos se molham ao final do dia. Planejo praia e não faz sol, vou para as montanhas e o frio se atrasa demais para eu acender uma lareira.
Mas se me perguntam sobre o céu, sobre o movimento das nuvens espalhando a chuva, sobre a noite estrelada, que significa o dia seguinte ensolarado, eu me lembro por horas das leituras de céu que a minha mãe ensinava: neblina baixa, sol que racha e se faz frio na noite de São João o inverno é rigoroso. Nunca se enganou com o clima, a minha mãe.
Se me perguntam a duração de um filme, peça, música, quantas páginas tem um livro, quantas imagens numa exposição, eu procuro as informações na ficha técnica, encarte, ficha catalográfica e acho sempre insuficientes as respostas.
Mas se me perguntam quanto tempo de duração em mim, eu faço tese, antítese e síntese de cada nota, trecho, cena e perspectiva para explicar se infinita ou passagem meteórica.
Se me perguntam se já podem levar as duas cadeiras, a mesinha de centro e a banqueta de um penteadeira que não existe mais, eu gaguejo na resposta, adio a despedida.
Mas se me perguntam quem se sentou nas cadeiras, que copos marcaram a mesinha e como a banqueta durou tanto tempo depois de já ter desfeito a penteadeira, eu conto longamente histórias de uma família, parecida com a de tantas outras; pernas que ainda procuram descanso e outras há muito descansadas, os copos e os diversos seus líquidos, as vaidades que se descobriram e se despediram em frente ao espelho da penteadeira.
Se me perguntam se eu quero desistir, eu fico em dúvida e soo instável na voz, nos gestos, na assinatura tremida do contrato. Mas se me perguntam se é escolha ou destino, digo que são os dois e nenhum. Escolha é abrir e fechar uma porta; destino é a maçaneta.
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