
Que não há partilha se a mão não souber se abrir a qualquer hora. Que mãos que ofertam nem sempre estão seguras e as que recebem, às vezes, não sabem o que fazer com aquilo que recebem.
Que eu cresço somente ao lado de quem não teme me ver maior. Que naturalmente as pessoas se encontram e se perdem, se conhecem e se afastam, mas algumas nunca saem de nós; a essas devemos tudo e elas jamais cobram.
Que o amor alimenta e o rancor envenena. Que o arrependimento é doloroso, mas lutar contra ele é uma força que só aumenta mais a ferida.
Que pedir desculpas não muda os efeitos do que provocou, mas que assumir o erro, abre uma fresta de luz no escuro da decepção. E isso já é um início de paz.
Que os dias mais importantes são aqueles quando eu não estou preparada e que quando eu estou, ele não vem tão importante assim. Que os dias dos quais mais sentimos saudades não há registro material.
Que eu não sei o que significa a entrada da lua em câncer, mas sei o que a lua é para mim nas noites de insônia.
Que o final do dia nem sempre é com o pôr do sol, que o final de uma história às vezes nem chega a um último parágrafo. Que o dia não começa para todos com o nascer do sol e que a luz às vezes chega no momento em que menos esperávamos; e que também pode trazer medo.
Que bala de troco já foi bom, já foi ruim e que agora eu só recebo moedas.
Que não há surpresa maior que o humano e que mesmo assim parecem muito repetidos em erros e acomodados nos acertos, que, mais tarde, não parecerão tão certos assim.
Que o tempo de amar, perdoar e seguir é qualquer um. Que o tempo do ódio é nenhum. E que mesmo assim o segundo parece ganhar mais atenção.
Que emoções guardadas só servem para sufocar e as expressas podem provocar arrependimentos transitórios; e que a segunda ainda é melhor.
Que TV a cabo só é boa para quem não tem TV a cabo, que é melhor ter um amigo com casa na praia do que ter uma casa na praia. Mais companhia e menos trabalho.
Que Asas da Luedji Luna é uma boa música para chorar de alívio; é o mesmo efeito de tirar um sapato apertado.
Que abelhas fazem mel e também picam; porque é delas. E ninguém há de confiar que não picam e desconfiar que o mel não seja tão doce. Uma coisa não anula a outra.
Que as quatro estações podem ser boas seguidamente ou difíceis uma atrás da outra; mas que também podem revezar alegria e tristeza; chuva e dia de sol.
Que os cães vivem menos que os humanos, que as tartarugas vivem mais e que os extremos parecem conhecer mais sobre a vida.
Que a fé e a religião até dialogam, mas não fazem o mesmo caminho. Que os hinos de todas as religiões são divinos, não porque são religiosos, mas porque são músicas.
Que voar não é dos humanos, mas muitas vezes perdemos o chão e as asas nos socorrem. Outras vezes abdicamos do solo e escolhemos flutuar, porque o sonho parece mais justo conosco. Que sempre que viajo, gosto um pouco mais do lugar do qual parti.
Que não é nossa responsabilidade ensinar alguém a nos amar; mas é nossa permitir ficar quem não aprendeu.
Que eu posso indicar um livro, filme, música, restaurante, prato, viagem, mas eu não posso esperar os mesmos olhos para cada indicação. E não há nada de errado com isso.
Que sorrir para fotos não é fácil para todos, mas sorrir sozinho por uma felicidade, pequena que seja, é involuntário, até.
Que um estado emocional muda velozmente, mesmo quando custa a passar e que uma semana nublada, de repente, é invadida por um arco-íris. E que não adianta esperar pela mudança ou querer que ela não chegue; ela virá, é sempre a única certeza. Sei que tudo muda e que tudo, depois de um tempo, parece igual.
Das coisas que eu sei hoje, poucas durarão e que nem sempre o que existiu foi vida e nem tudo que partiu morre quando vai ou muito tempo depois de ter ido. Sei pouco; o que eu não sei ainda é o meu melhor.
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