terça-feira, 22 de maio de 2012

É só cansaço

   Uma pia vazando sem parar;  uma prima adolescente grávida, me ofereço para cuidar do seu filho, não tenho resposta; "precisa caminhar", a voz me avisa, "não vá se atrasar", impaciente me alerta; no caminho percebo que saí com uma bolsa pesada para me exercitar, um ator famoso me para, pede a chave de casa, entrego-lhe a chave com naturalidade; e a bolsa, o que faço com a bolsa? Bato na porta de uma casa, em um bairro que não conheço, uma professora de geografia, da época de faculdade atende a porta, peço para deixar minha bolsa na casa dela enquanto caminho, ela diz que está de saída, mas quer me ajudar a resolver o meu "problema" - a bolsa, o que fazer com a bolsa? Arrependida, envergonhada, estou em meio a uma profusão de pessoas falantes, que gesticulam e tentam encontrar uma solução para mim. Quero ir embora, só desejo ir embora, mas ninguém me ouve, estão ocupados demais comigo, para prestarem atenção em mim. A polícia aparece. Eu resolvo voltar para casa, mas não a encontro, não lembro o endereço, o caminho, nada no lugar por onde ando me parece familiar; lembro que esqueci de algo, "Do que esqueci, meu Deus?", subindo uma ladeira íngreme um senhor sorri para mim, vem em minha direção, reconheço o sorriso, o aceno, o senhor: meu avô. "E eu achava que ele tinha morrido, até chorei pelo desgraçado", a voz bem humorada volta a me importunar. Meu avô me pergunta se formei, se estou indo ver a minha avó. Aliviada, agora tenho companhia, talvez ele me leve para algum lugar que eu reconheça. Começamos a caminhar, até que alguém grita seu nome, ele para, pede para eu seguir. Nó na garganta, tenho tanto medo, não sei para onde ir, mas não quero decepcionar ou preocupar meu avô, despeço e sigo pela mesma rua, talvez no final, eu encontre algo, alguém, alguma resposta. E a bolsa, onde está minha bolsa? Perdi-a pelo caminho, preciso voltar. Minha chave não está mais nela, não vou voltar, desisto da bolsa. Mais a frente encontro um parque, preciso saber onde estou, resolvo pedir informações, entro em uma padaria, pergunto a atendente, ela se vira, é minha amiga de infância com quem briguei, não nós falamos há mais de 15 anos, ela diz que estamos no Jardim Botânico. "Tão diferente o Jardim Botânico!", eu penso, ela ouve a voz da minha cabeça também e responde: "é reforma para a copa".

  - Então, como tem sido seu sono? A médica me pergunta. - Normal, tenho dormido bastante, só acordo muito cansada. Com o que você tem sonhado?  - Acho que não tenho sonhado. Prefiro mentir. Como eu explicaria essa sucessão de enganos? Quem poderia fazer alguma "interpretação dos sonhos", com tanta informação? 
- Está triste hoje, querida? Ela pergunta.
- Não, não é tristeza. É só cansaço.
 
  Deixa estar... talvez esta noite seja aquela dos "sonhos tranquilos". Tomara.

Nenhum comentário: