quarta-feira, 20 de junho de 2012

Como esperar não esperar?

  Tinha decidido: arrancaria de vez qualquer traço de ansiedade. Fazia-lhe mal, tinha determinado a médica, tirava-lhe o foco, detectava o conselheiro, trazia-lhe sofrimento, apontava seu guia espiritual. E quando se conhece a raiz do mal, o jeito é trabalhar para arrancá-la, não é?

  Procurou terapias alternativas, tratamento homeopático, yoga, filosofia, autoajuda, biografias diversas, alguém com quem pudesse compartilhar o problema e buscar a definitiva solução. Paciente seria, presente estaria, aceitaria somente o " hoje", o futuro ficaria por conta de um outro eu; o "eu do futuro". Achava que a homeopatia ajudava, amava a yoga e sentia-se mais "presente" com a sua prática, compreendia a necessidade do pensar no agora (mente e corpo), a autoajuda e as biografias, ajudavam a distraí-la, afastava-a das suas expectativas intermináveis, ainda que temporariamente.

  Madura, segura, respaldada pelos diversos mecanismos que incorporara no seu cotidiano. Além de relaxamento, meditação, oração, restringia o consumo de cafeína e açúcares. Agora, definitivamente, controlava a ansiedade. Contemplava a mansidão de um "eu tranquilo", vitoriosa, orgulhosa, sentia o delicioso sabor da conquista: nunca mais esperaria. E a sensação pacífica durava; durava tanto quanto um sorvete fora da geladeira.

  Bastava o telefone tocar, o som do celular, apontando uma mensagem recebida, o interfone chamando, a chegada de uma correspondência...qualquer sinal de comunicação externa era motivo para o sobressalto atrapalhado. Os olhos brilhavam, a boca secava, milhões de expectativas em alguns segundos seriam destruídas. Sem brilho nos olhos, com a boca novamente úmida, atendia o telefonema que não era para ela, lia a mensagem enviada, na verdade, pela operadora, atendia o interfone para informar o número do apartamento, do verdadeiro requisitado, assinava o recebimento de uma correspondência da qual não seria a dona. Não importava a sequência dos acontecimentos, nem o número de vezes que eles ocorriam durante a semana, na próxima, a expectativa voraz estaria de volta.

  Não aprendeu a controlar expectativa alguma, não afastou a constante ansiedade de si, não arrancou raiz maléfica do seu terreno, mas decidiu que faria daqueles momentos de espera turbulenta, um "intervalo" para os seus paraísos pacíficos, duramente descobertos. Nenhum dos mecanismos agregados na sua vida seriam descartados, mas conviveriam eternamente com a enfermidade incurável da vida, a febre do desassossego. Esperar, em algum momento, pode sim trazer angústias, mas significa também, que existe alguma fé, seja na rede, no peixe, no mar ou no pescador. Alguém ou alguma coisa pode movimentar as águas, aparentemente paradas, do seu rio. Com o coração na mão ela espera um telefonema, uma correspondência, um chamado, um balançar qualquer na rede jogada com fé.



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