terça-feira, 19 de junho de 2012

Faça-se o novo!

  Um sentimento novinho em folha, um coração inexperiente, a ingenuidade de se apresentar e se entregar ao desconhecido são prazeres que só se percebem quando a maturidade nos tira o sabor da novidade. Depois de alguns solavancos o sujeito no ônibus passa a levar seu corpo, antes solto, despreocupado, entregue às curvas, em postura rígida e "preparada" para as próximas lombadas. O "vivido" passageiro transforma o seu descomprometido passeio em viagem tensa, à espera de um descuido do motorista, de uma estrada mal conservada, de um caminho difícil.

  A dureza desta a vida é que a gente vive confundindo aprendizado, com armadura e transforma as mais bonitas experiências em obstáculos para evitar o contato com outras tão, ou mais, belas. Triste é aquele que opta pela superproteção do próprio sentimento e se poupa de qualquer profundeza para não vivenciar de novo uma dor. Decepções se repetem, dores não são como raios, atingem sim diversas vezes um mesmo pobre coração, mas não há meios de não se magoar vivendo. Mas há sempre o consolo do verbo no gerúndio; se doeu é porque se doou e se doar é estar vivendo!

  O passageiro do ônibus não cairá, não se ferirá caso algum incidente aconteça, mas nesta vigilância constante o triste rapaz não desfruta com liberdade de paisagem alguma. No trajeto que percorre há flores, crianças brincando, há carros, cachorros alegres, artistas de rua, mas ele só se prepara para os buracos, para as surpresas doloridas do caminho. Pobre moço, triste jornada de um cavaleiro andante que só se arrisca a dar pequenas olhadelas por trás do seu escudo.

  E vida poupada, não pode ser reaproveitada em qualquer outro tempo. Tem-se o agora, o já, a possibilidade do final do episódio de hoje ser triste como o de ontem, mas e se não for? Se não se deixar levar "liberto", desnudo, com olhos e sentimentos infantis, nunca saberá. 

  Não deixar que somente a dor ensine, não deixar que ela nos transforme em passageiros medrosos, não permitir que um "solavanco" de hoje nos poupe da paisagem bonita que ainda está porvir é o verdadeiro aprendizado. Uma dor não é esquecida. É superada, é disfarçada, é perdoada, mas jamais completamente  abandonada. Mas, há sempre a possibilidade de ser largada aos pouquinhos pelo caminho afora, para dar espaço às memórias mais felizes. Coração bonito é ferido tantas vezes, vezes de se perder a conta, mas sempre volta aberto, iluminado, puro e ingênuo, para as novas vivências. Querer um sentimento todo novo, um coração inexperiente, uma ingenuidade de se apresentar e entregar-se ao desconhecido já é um caminho alternativo. Então, faça-se sempre o novo! Quantas vezes for preciso...


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