quarta-feira, 18 de julho de 2012

De mãos dadas com o medo

  Embora a gente insista, muitas vezes, em fugir dele ou depois de tanto correr a gente decida enfrentá-lo, para algumas ocasiões o melhor mesmo é seguir junto dele.

  A moça insone de ocasião teme a noite cada vez mais, sabe-se sozinha, inútil, improdutiva e ansiosa pelo descanso que não vem e nunca virá, pois à medida que o seu medo aumenta, maiores são as chances de seus olhos não fecharem. É o medo de uma noite mal dormida que não a deixa dormir. Não toma café depois das 18 horas, não assiste TV no quarto, desliga o computador no final da tarde, mas o sono continua perdido.

  A senhora aparentemente saudável visita os consultórios médicos todas as semanas, faz exames, tratamentos diversos, mas nem ao menos sabe exatamente o que sente. O que a senhora tem é medo. Medo de adoecer, de não ser mais independente ou produtiva. A senhora cristã, cheia de fé, tem medo da finitude, do desaparecer, tem medo do inevitável, do desconhecido.

  O moço bem sucedido acumula promoções, bens, a admiração dos seus pares e  preocupações intermináveis. Teme o esquecimento, a derrota; acostumou-se com a aparente abundância que conquistou. O medo do moço é reconhecer que depois de tantas mudanças, por dentro é o mesmo, não há como fugir de si eternamente.

  Verdade universal é que absolutamente todos temos algum medo, mas o que nos diferencia uns dos outros é a reação que nos permitimos. Correr, enfrentar ou coabitar, são algumas das opções. Mrs Dalloway vive dando festas para encobrir o silêncio; a insone finge dormir, enquanto sonha acordada; a senhora busca a saúde, que já possui, em consultórios médicos, não sabe que o problema não é o corpo, mas a alma; o rapaz corre alucidamente para construir a imagem que nunca será terminada, nunca será suficiente e completa. 

  Ter medo, dizem os cientistas é uma espécie de proteção biológica, que nos torna mais cautelosos. Ter medo é humano; social e biologicamente. Mas, o medo pode ser também um meio de autoconhecimento, conhecê-lo, respeitá-lo (sem se curvar) e encará-lo de frente, não como um inimigo, mas como uma condição para uma vivência mais profunda, uma dádiva, talvez seja a maneira menos dolorida de reagir a ele. Mrs Dalloway se admitisse, vivenciasse e desfrutasse de seu silêncio, não precisaria das festas; a insone, não dorme, mas sonha, só isto já é um consolo; para a saúde da senhora, as visitas ao médico deveriam ser mais espaçadas e o moço, deveria relaxar e descobrir que nem sempre quem perde é infeliz. De mãos dadas com o medo ele fica tão menor, tão mais do nosso tamanho...


Nenhum comentário: