Quando ela diz que tenho a mesma itensidade de alegria e melancolia não me surpreendo, embora talvez esperasse que ela omitisse, como quase sempre faz, a minha própria tristeza de mim. Todas as vezes que ela valoriza cada sorriso, o que ela tenta, na verdade, é trancar a minha melancolia em um lugar que eu mesma não possa resgatar. Queria mesmo que ambos os sentimentos nunca se equivalessem, desejaria que cada um tivesse uma gradação específica e alegria fosse mesmo a soberana. Porque acho que é pelo que sou mais amada, pelo que mereço ser amada e é onde encontro conforto, segurança, força e até beleza. Mas, quantas vezes a gente escolhe que sentimento vai usar?
Quase sempre a gente tenta escolher, mas acontece que sentimento não é obediente como roupa no armário, a gente pensa na ocasião, clima, companhia e depois pega a peça que melhor combina. Sentimento não se contenta em ser escolhido e só depois retirado do cabide, ele é o primeiro a chegar, não se deixa ser selecionado, ele é quem aponta quem e quando irá tomar.
Foi o Saramago quem disse que alegria e tristeza podem andar juntas, porque não são como água e azeite. Concordo e, mais, acredito que alegria e tristeza não são opostos, são as duas, na verdade, complementares, irmãs quase siamesas, inseparáveis. Enquanto nos preparamos para recebermos apenas uma, seja qual for, a outra logo se ajeita e acompanha a irmã. A felicidade intensa do abraço da chegada é sorrateiramente invadida pelo lamento da distância (- Onde eu estava quando tantas transformações aconteciam?). No abraço de despedida, a tristeza do abandono é acompanhada pelo contentamento da visita ( - Bom poder ter vivido isto!). Alegria e tristeza são irmãs muito ligadas que avisam uma à outra sobre o seu itinerário, abrem sempre caminho para estarem juntas e compartilham espaço nos mesmos espíritos atormentados, nas mesmas almas desavisadas, que insistem em receber apenas a irmã mais risonha. Mas as irmãs têm personalidades muito próprias, enquanto a alegria é frágil, volátil e extremamente arredia, quanto mais tentamos nos aproximar ela mais se afasta; a tristeza é forte, teimosa e se a recusarmos, insistente ela permanece. Tristeza é sentimento que faz curva e nos encontra em qualquer caminho, seja ele fácil ou difícil; alegria é sentimento que passa reto, se não tivermos jeito, paciência e agilidade ela segue sem nos visitar. Não se pode preferir somente uma, desejar que apenas uma das irmãs nos acompanhe, esta não é uma escolha nossa.
Embora eleger apenas um sentimento não esteja ao nosso alcance, suspeito que cabe bem a quem o sentimento escolher, decidir a maneira que irá usá-lo, se como acessório menos importante ou como traje principal. Vestida de alegria com a tristeza dentro da bolsa é uma opção. Tentar afastar duas boas irmãs só trará mais sofrimento, o jeito é encontrar o jeito das duas se ajeitarem bem, dentro da gente.
"Seja do jeito que for, eu te juro meu amor, se quiser voltar tá perdoado..."
"Seja do jeito que for, eu te juro meu amor, se quiser voltar tá perdoado..."
Um comentário:
são tão inseparáveis que sem uma não conheceríamos a outra... as alegrias e as tristezas, guardemos as duas:)
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