quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

A tristeza e a alegria - essas irmãs!

  Quando ela diz que tenho a mesma itensidade de alegria e melancolia não me surpreendo, embora talvez esperasse que ela omitisse, como quase sempre faz, a minha própria tristeza de mim. Todas as vezes que ela valoriza cada sorriso, o que ela tenta, na verdade, é trancar a minha melancolia em um lugar que eu mesma não possa resgatar. Queria mesmo que ambos os sentimentos nunca se equivalessem, desejaria que cada um tivesse uma gradação específica e alegria fosse mesmo a soberana. Porque acho que é pelo que sou mais amada, pelo que mereço ser amada e é onde encontro conforto, segurança, força e até beleza. Mas, quantas vezes a gente escolhe que sentimento vai usar? 

  Quase sempre a gente tenta escolher, mas acontece que sentimento não é obediente como roupa no armário, a gente pensa na ocasião, clima, companhia e depois pega a peça que melhor combina. Sentimento não se contenta em ser escolhido e só depois retirado do cabide, ele é o primeiro a chegar, não se deixa ser selecionado, ele é quem aponta quem e quando irá tomar.

  Foi o Saramago quem disse que alegria e tristeza podem andar juntas, porque não são como água e azeite. Concordo e, mais, acredito que alegria e tristeza não são opostos, são as duas, na verdade, complementares, irmãs quase siamesas, inseparáveis. Enquanto nos preparamos para recebermos apenas uma, seja qual for, a outra logo se ajeita e acompanha a irmã. A felicidade intensa do abraço da chegada é sorrateiramente invadida pelo lamento da distância (- Onde eu estava quando tantas transformações aconteciam?). No abraço de despedida, a tristeza do abandono é acompanhada pelo contentamento da visita ( - Bom poder ter vivido isto!). Alegria e tristeza são irmãs muito ligadas que avisam uma à outra sobre o seu itinerário, abrem sempre caminho para estarem juntas e compartilham espaço nos mesmos espíritos atormentados, nas mesmas almas desavisadas, que insistem em receber apenas a irmã mais risonha. Mas as irmãs têm personalidades muito próprias, enquanto a alegria é frágil, volátil e extremamente arredia, quanto mais tentamos nos aproximar ela mais se afasta; a tristeza é forte, teimosa e se a recusarmos, insistente ela permanece. Tristeza é sentimento que faz curva e nos encontra em qualquer caminho, seja ele fácil ou difícil; alegria é sentimento que passa reto, se não tivermos jeito, paciência e agilidade ela segue sem nos visitar. Não se pode preferir somente uma, desejar que apenas uma das irmãs nos acompanhe, esta não é uma escolha nossa.

  Embora eleger apenas um sentimento não esteja ao nosso alcance, suspeito que cabe bem a quem o sentimento escolher,  decidir a maneira que irá usá-lo, se como acessório menos importante ou como traje principal. Vestida de alegria com a tristeza dentro da bolsa é uma opção. Tentar afastar duas boas irmãs só trará mais sofrimento, o jeito é encontrar o jeito das duas se ajeitarem bem, dentro da gente.


"Seja do jeito que for, eu te juro meu amor, se quiser voltar tá perdoado..."


Um comentário:

Ana disse...

são tão inseparáveis que sem uma não conheceríamos a outra... as alegrias e as tristezas, guardemos as duas:)