quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

"Falta um tanto ainda, eu sei..."

  E é ele mesmo quem se encarrega de nos ensinar tanto, abrir nossos olhos e, mesmo, repetir lições. O inexorável, poderoso mestre, o tal do tempo. Porque somente, a partir dele e por simples observação a gente compreende que passam os outros, passam as coisas e tempos, passamos nós. 

  A mancha de limão da caipirinha do carnaval não durará uma Quaresma inteira; o braço quebrado o gesso ajeitará; o imperdoável suaviza, a mancha clareia e clareando, depois de algumas lavadas, some quase completamente; a gripe cura em menos de uma semana, mal de amor também, mas pode levar mais tempo que a gripe; hoje tem, amanhã não tem mais; carnaval ontem, hoje quarta-feira de cinzas; éramos bons amigos, hoje somos somente bons e amigos de outros; o cabelo curto voltará a crescer, assim como a grama lá fora e os meninos - ah esses meninos como crescem! - a blusa favorita esgarça de tanto uso, a esquecida tem nódoa e cheiro de guardada, amanhã compro outra favorita; a novidade de hoje virará artigo histórico amanhã ou, o mais provável, um nada, será somente esquecida; a barriga da grávida cresce ao extremo e depois de dar à luz, volta ao seu lugar, a mãe é que não voltará ser a mesma nunca; o conselho bem intencionado de agora, soará como maledicência quando a cabeça encontrar o travesseiro; uma palavra mal expressada ou incompreendida torna-se mágoa eterna, um silêncio covarde agora poderá implicar no abandono de alguém, algo ou, quem sabe, até de si mesmo.

  Aprende-se que dureza não significa frieza; um "não" enfático pode ser a libertação de alguém, enquanto um "sim" hospitaleiro, um triste castigo; que afetividade não se alimenta de palavras bonitas, declarações inesperadas e convites insistentes, afeto também requer ação. Pedir reciprocidade não é demais não, todos, qualquer um de nós merecemos muito, muito, no mínimo, o mesmo que damos. Que sonhos se realizam ou não, amores acontecem ou não, sentimentos duram ou não, mas a crença em cada um deles faz qualquer insucesso valer a pena, porque existiu um dia dentro de nós, já é grande coisa. Com a maturidade entendemos que a família tem mais impacto naquilo que somos do que podíamos imaginar; na doença, a saúde é artigo de máximo valor, mas quando saudáveis a colocamos à prova por qualquer impulso ordinário. Alegria e tristeza não chegam com hora marcada e aviso de espera, nunca estamos preparados suficientemente para ambas, mas elas chegam e nunca dizem quanto tempo ficam. Um dia odiamos alguém, noutro ele nos odeia, depois passamos a admirá-lo e mais à frente, ele também nos admira e não é porque mudamos de opinião que somos fracos. Fraqueza maior é manter-se com uma só opinião a vida toda; perde-se muito tempo com insistências tolas. Ontem ria e achava graça do artista, hoje cada piada mortifica-me, faz-me pensar quando é que ele perdeu seu talento cômico ou terá perdido eu o meu humor? Talvez nem ele, nem eu perdemos nada, só mudou-se a perspectiva.

  Em poucos dias mudamos muito, embora sutis as transformações acontecem sim. E em uma mesa de bar, Fulana diz que em uma década não saiu do lugar? Que afora o cabelo nada se modificou? Não percebe que neste tempo você encontrou a si mesma e hoje é muito mais aquilo que sempre foi e não sabia ou não queria ver? Hoje não teme tanto as polêmicas, diz mais o que se passa dentro de ti, tem menos silêncios, envergonha-se menos com os elogios é menos paciente com as críticas, porque conhece-se mais, reconhece seus valores. Não se culpa tanto pelos tropeços, embora ainda chore, mas hoje as lágrimas tem outro peso. Reconhece as mudanças, Fulana? O que não muda nunca para Fulana é só mesmo o constragimento de, no meio de um assunto qualquer, vir-lhe a garganta um nó, pequenos mares se formarem sob seus olhos brilhantes e o interlocutor ansioso intervir: "não chora!", dizer isso a Fulana é sentença de choro certo. Muitas coisas mudam, algumas permanecem, mas até as que ficam, ficam sempre de modo diferente. Já disse que Fulana não se esconde mais quando chora? Eis a grande diferença: o choro público dura bem menos, tenho achado isto hoje, amanhã não sei de nada...


6 comentários:

Ana disse...

E ainda bem que mudamos tanto, á sinal que evoluímos, quando eu deixar de mudar aí começo a ficar preocupada:)
beijos

Anônimo disse...

Que lindo... adorei!!! E suspeito quem tenha sido tb uma "interlocutora ansiosa" na mesa de bar nos últimos dias!!! hahaha! Sorry! ;) E lá se vão dez anos de amizade... e viva o tempo!!!

Amanda Machado disse...

Verdade, Ana, as mudanças é que são "naturais".

Amanda Machado disse...

Viva o tempo, viva a última década (muita coisa, né?)!Sou grata pelo tempo que compartilhamos e (remos) mais décadas a frente. Beijos

Anônimo disse...

Ei, Amanda. Achei seu blog por acaso e tenho lido há algum tempo. Acho seus textos muito interessantes e bem escritos. Já me fizeram pensar bastante hehe. Gostaria de adicionar o link do seu blog, no meu. Estou numa época de reformulações, mas se quiser dar uma olhadinha: http://canseidesermenininha.blogspot.com.br/. Se quiser me mandar um email para conversarmos melhor sobre... Não sei se é lerdeza, mas não achei o seu aqui hehe. O meu é: ziii.psi@gmail.com. Aguardo sua resposta. Até mais =)

Amanda Machado disse...

Obrigada Zi. Que bom que tem gostado. Volte sempre que quiser,mando-te um e-mail então. Aliás, deu-me uma boa ideia, colocarei em algum lugar do blog meu e-mail, caso alguém queira se corresponder comigo. Beijos.