E um livro é escrito por quem lê. O leitor é o dono maior da estória. Livros e pessoas são construções negociadas, somos para os outros, tão somente, o que eles podem ver. E por maior que seja o esforço que um escritor empregue em sua obra, o leitor lê aquilo que ele pode, entende e aquilo com o que, eventualmente, ele se identifica.
Não adianta apontar páginas, destacar trechos, escolher palavras que o leitor desconhece, ele vai apreender o que lhe tocar o coração, vai fixar na memória, o que antes, colar na alma. E assim são as pessoas, o que é o seu melhor para você, pode ser insignificante para o outro, o que é um detalhe, quase desconhecido em sua personalidade, pode ser fundamental para a empatia alheia.
Não adianta apontar páginas, destacar trechos, escolher palavras que o leitor desconhece, ele vai apreender o que lhe tocar o coração, vai fixar na memória, o que antes, colar na alma. E assim são as pessoas, o que é o seu melhor para você, pode ser insignificante para o outro, o que é um detalhe, quase desconhecido em sua personalidade, pode ser fundamental para a empatia alheia.
Juntas, novamente, descemos a rua, ela é a ausência diurna que só deseja compartilhar, mal a escuto e já repreendo seu olhar afetuoso com alguém que já decepcionara-a tanto. Sua capacidade de perdoar e esquecer é admirável, portanto deveria ser valorizada, mas temo essa facilidade de doação, já permitiu-lhe grandes arranhões. Mais tarde arrependo-me, mas é noite e ela dorme antes das minhas desculpas. Na estante os livros quase organizados, por tamanho e forma, me lembram das idealizações desfeitas, das surpresas bem vindas; subestimados antes e grandiosos depois, alguns superestimados na livraria e em casa decepcionantes, nenhum deles é verdadeiramente de todo ruim, talvez a minha leitura tenha sido rasa demais em alguns ou profunda quando não requisitava.
Livros e pessoas merecem sim uma segunda leitura, uma nova chance sempre, é assim que eu lia, não era? Lia, pelo menos três obras do mesmo autor, até decidir que sua escrita não agradava-me mesmo. O que vai fora do livro, em sua capa, resenha ou crítica não pode definir uma estória. Opiniões desfavoráveis de outros leitores também não deveriam interferir em nossa escolha e julgamento. Os olhos dos outros, são dos outros. Nem mesmo o nosso deveria se repetir. Uma mesma pessoa permite tantos olhares, que a limitação é, no mínimo, injusta. Buscar em um mesmo livro possibilidades diferentes a cada dia é o que torna a estória grandiosa. Um livro nunca vem terminado.
Ela é que a boa leitora, a esperteza é toda dela. Tolice é achar que somente a partir de uma leitura é possível dizer se é bom ou ruim. Dos livros é possível afastamento, mas com as pessoas a insistência em uma leitura mais generosa é ainda a maior virtude.
6 comentários:
Gostei, me identifico e assino embaixo Mandinha!!! ;)
Adorei este texto e a analogia entre pessoas e livros. Tens razão, há escritores que têm livros que não gosto e outros que adoro, o Saramago é um bom exemplo. se me tivesse ficado pela primeira impressão nunca teria lido outros livros dele que são fantásticos. com as pessoas é assim, há que experimentar mais do que uma leitura, até porque todos temos dias em que nem de nós gostamos!
beijinhos
Rs ;)
Ainda bem que insistiu com Saramago,Ana, o homem é mesmo incrível! Já na primeira leitura me arrebatou. Beijo
Incrível seu texto! Inda agora, antes de abrir o blog, estava pensando em julgar mal alguém pelos seus atos, mas então pensei: pq não mudo eu, o foco do meu olhar para os atos dele? E vem vc e me diz para ler as pessoas de um modo diferente... Não poderia ser mais harmônico.
Parabéns pelo texto.
Continue, continue!
Beijos.
Obrigada Zi! Que bom que de alguma maneira o texto te inspirou, ou melhor, a sua leitura dele...beijos. ;)
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