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Enquanto desço a rua vizinha, uma mãe sobe com o filho agasalhado, quase completamente coberto, tirando meio rosto destampado, provavelmente, apenas para preservar sua respiração. Incomodado, sem a mobilidade costumeira, em um instante de descuido, salvo do olhar da mãe, ele retira o primeiro casaco, vitorioso, segue com passos mais rápidos a frente dela, logo que ela percebe, puxa-o para próximo dela e, mais treinada, rapidamente coloca-o sob o casaco novamente, mesmo com a resistência frenética do menino. Ele sobe reclamando, tenta abrir o zíper daquele que parece ser um pesado castigo, ela impede cada tentativa dele; passam por mim, a mãe zelosa e o filho chorão. Definitivamente, não gosto de casacos, faria o mesmo no lugar do pobre.
Em tempos frios assim, sempre achei que a melhor solução era a de não sucumbir ao clima, não evitar os banhos, não exagerar nos casacos, coisa pouca, somente o indispensável, acho que quanto mais tentamos afastar o frio, mais poderoso ele parece. A proteção demasiada pareceu-me sempre aumentar a fragilidade, quanto mais nos cercamos de proteção, mais inseguros nos tornamos diante de qualquer imprevisto. Enquanto arrumava a cama, assistia ao jornal da manhã e revia uma figura pública simpática, explicando sua escolha pela sua aparente displicência com a própria segurança: "Acho que ninguém morre de véspera.(...)Não dá para visitar os amigos em uma redoma de vidro". Mãe e filho, contrariados, viram a esquina. O menino crescerá e terá de lutar muito para afastar-se dos cuidados sufocantes da mãe; segurança demais isola e enfraquece, penso ainda.
É preciso que se coloque o peito à prova, não se encolha tanto os ombros; enfrente o frio, a chuva e, principalmente, o medo do frio e da chuva. Assim também é a vida dos sentimentos; expor-se aos riscos de se quebrar, decepcionar, desiludir é, ainda, o único caminho possível para se chegar ao melhor da vida. Insuportável seria ver a vida por um vidro seguro, sem tocá-la, sem sentir o calor, que só quem se arrisca experimenta.
Logo que mãe e filho se afastarem, ele correrá e tirará o sufocante casaco, longe dos olhos da mãe, ele, finalmente, terá a liberdade sonhada, a dos movimentos e a dos sentidos. Uma gripe ocasional não lhe fará mal, febre e tosse são curáveis; mas a vida que se viu e não se teve, esta jamais poderá ser remediada.
2 comentários:
Gostaria muito de ter a coragem de viver sem tanta proteção, mas acontece q algumas vezes a vida machuca tanto q precisamos de muita proteção...
Verdade. Mas tenho achado que machuca de qualquer jeito, então se for assim, menos segurança me parece melhor...;)
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