terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

O retroceder não existe mais

  Estamos ainda pelo meio da semana e duas pessoas distintas, sobre questões muito particulares, me lançaram uma mesma dúvida: "Se eu fizer isso não é andar para trás?". Vejo a mesma pergunta por todos os lados, vejo gente correr para qualquer lugar que não se pareça com o anterior, em uma maratona insana para o que chamam de "evolução". Para ambas as pessoas deixei que a pergunta ecoasse, porque, afinal, quem pode responder as nossas questões, senão, nós mesmos? Depois, deixei que a questão me percorresse, tomasse conta de mim e também fosse minha. Quem nunca teve medo de interromper um progresso e voltar a um estado inicial? Eu tive, não tenho mais.

  Ao que me parece as pessoas estão sempre progredindo, avançando, se tornando novas e mais cheias de referências, não ouso dizer que "melhoram", mas modificam-se. Têm a possibilidade de visitar outras perspectivas, vão construindo novas referências; é um pouco no que acredito. E, por isso, a hipótese de retrocesso nunca pareceu-me possível, fora da ficção.

  Voltar a uma cidade, depois de ter saído dela em busca de uma ascensão profissional; retomar um relacionamento terminado; voltar a uma graduação, depois de um título posterior; voltar a dividir o apartamento, depois de ter morado sozinha; voltar para um carro usado, depois de tido um novo...nada disso me parece um retrocesso. Não, se para cada coisa, o sentido for novo. Um sentido de que a evolução não acontece fora, mas dentro. Pessoas deveriam ocupar-se com o crescimento que não é aparente, mas definitivo.

  Não acho que a vida possa ser determinada por etapas, primeiro isso, segundo aquilo e depois...não existe regularidade, entende? O passo anterior não é superado pelo próximo e este não é uma preparação para mais a frente. Então, como voltar se já não somos, nem mais, os mesmos?

   O rapaz que decide abandonar a profissão aos 30 anos, para realizar o sonho de estudar medicina, não me parece retroceder, vejo-o mudar o curso da sua história; fazer outra trajetória. Bem sucedido na profissão anterior, se despe da vaidade de um cargo, dinheiro e estabilidade e volta aos bancos  universitários. Sobe de ônibus, para economizar, come no restaurante universitário, porque é mais perto e também barato, abre mão das suas férias e viagens internacionais, porque opta por um novo caminho e não uma volta. Quando digo que aceito o tempo de cada coisa, há os que leem que desisto do movimento, que entrego nas mãos do destino o meu próprio futuro; isso não é verdade.

  Todos os dias, inevitavelmente, nos afastamos do que somos; o movimento não é ação só nossa, mas do próprio tempo. Em uma luta por andarem para o que chamam de "frente", pessoas abandonam, a todo tempo, vontades genuínas, desejos profundos, tudo por parecerem ultrapassados. Pensem o que quiserem, minha aceitação não é covardia é amor. Amo minha condição, não o tempo todo, é claro. Porque a instabilidade é própria da minha natureza, ainda que eu lute muito contra ela. 

  Não existem em estado puro: começos, meios ou fins. Tudo é uma coisa só. São aquilo que chamam de vida. Eu andaria, só andaria, a algum lugar sempre se chega ou, antes, ele chega até você. A vida anda para frente todo o tempo, o tempo todo. Minhas dúvidas não passam por voltas ou aparentes derrotas, faço escolhas, não sigo etapas. Acho um tanto melhor assim, já que para mim, retroceder não existe mais, então avanço, assim como o tempo.



Um comentário:

Ana disse...

concordo completamente contigo, vamos crescendo, vamos ficando mais velhos e a vida vai evoluindo, é como o mundo, nunca mais retrocederá, pode sim mudar, mas nunca deixar de evoluir.