terça-feira, 8 de maio de 2012

Fosse bebedeira, fosse amizade...

  Das situações mais engraçadas que, vez ou outra, temos a "oportunidade" de testemunhar é a certa "fragilidade" que alguns de nós, deixam aflorar depois de uns copos "a mais". Interessante como o álcool, em alguns episódios específicos, revela a face mais desconhecida de alguns indivíduos. Surpreendidos pela docilidade e afetividade de seres, antes tão pragmáticos ou chocados pela agressividade e intolerância de pessoas aparentemente tão meigas, chegamos a atribuir a bebida o poder da "transformação". No caso dessa "bebedeira ocasional", que conheço melhor, acho que a bebida serve somente para trazer à luz o oculto de cada um, claro, que de maneira potencializada.

  Quem já viu aquelas classificações de bêbados (do que chora, do que ama, do que esquece, do que passa mal, do que canta, do que quer ter razão a todo custo...) já reconheceu vários dos seus amigos e até a si mesmo, em algum dos tipos. Eu, ao que me parece, quando consumo uns goles poucos a mais, fico alegríssima, divertidíssima (muitos dizem); o que surpreende a maioria, já que sou aparentemente um pouco sisuda (disfarce "pouco inteligente" da minha timidez). No meu caso, acho que o álcool me "leva para casa", faz com que eu me comporte com a mesma leveza que vivo entre "conhecidos"; claro, que o consumo nunca deve ser em demasia, porque senão a solução possível é ser literalmente levada para casa. E essa sensação de não ter o mínimo de controle sobre si, é angustiante.

  E, mais uma vez, vejo trabalhadores saídos de um bar (no lugar com mais botequins da cidade, onde tenho frequentado ultimamente para umas aulas preparatórias para exames). Já passavam das 22h, quando três homens feitos (suspeito que todos acima dos 40 anos) saíam do bar, bastante animados, falavam alto e pareciam ter dificuldades em estabelecer uma decisão acertada (- Por ali, vamos pra lá!; - Mas, minha casa é para o outro lado, eu acho. - Mas, seu ônibus passa lá também, não passa?; - Não. Não passa. Acho que não!). Em frente ao bar, os três homens se exaltavam com a, em outros tempos, simples informação, a respeito do lado da casa de cada um. Depois de alguns minutos de discussão, de algumas simulações confusas, um iria para o lado esquerdo e os outros dois para o lado direito. Resolvido, né? Não. Aí é que a confusão iniciaria. Um dos homens, o mais franzino, e talvez por isso aparenteva ser mais novo também, que trajava a camisa de um time de futebol italiano, com o nome "Del Piero", nas costas, de repente se tornou alvo de "disputa" dos outros dois grandalhões.

  Enquanto um dos homens tentava convencer o Del Piero de dividirem um táxi, o outro sugeria que ele deveria acompanhá-lo até o ponto de ônibus e economizar seu salário recém recebido. Del Piero ficava ainda mais frágil no meio dos companheiros, que pareciam carentes de companhia. Del Piero era a "bola disputada" na partida de futebol de várzea. Um dos homens sugeriu que Del Piero viesse com ele para um outro bar, já o outro homem achava que Del Piero estava suficientemente bêbado, por isso ele o levaria até em casa, agora ele se oferecia para pagar "integralmente" a corrida de táxi. As ofertas se multiplicavam, os argumentos nasciam cada vez menos lógicos, os "colegas" de bar eram inimigos e Del Piero não fazia nada...

  Chega o meu ônibus, adio minha entrada, deixo os outros passageiros entrarem na minha frente, queria assistir ao desfecho da pequena anedota, queria saber com quem Del Piero ficaria, queria ver Del Piero se cansar daqueles dois bêbados e com muita dignidade decretar: - Vou sozinho! Vocês que se entendam sem mim.

  Mas, ninguém se afastou, os três agora pareciam uma "pequena massa de bêbados", amotoados, abraçados, típico afeto de alcoolizados, do ônibus ouvia a frase definitiva: - Te considero pra caramba!
  Agora, os três seguiam em uma mesma direção. Provavelmente rumo a um outro bar. Não se pode confiar mesmo em bêbados, não se pode esperar nenhuma atitude deles. Mas, quem sou eu para julgar o desespero, a carência, o medo da solidão de cada um dos dois brutamontes. Não se pode condenar a "falta de atitude" de Del Piero diante da patética disputa, era a oportunidade de se sentir amado, quem sabe? 

  Eram três bêbados, em frente ao "Pedrinho's Drinks", talvez não fosse fruto da bebedeira, nem amizade me pareceu ser...era eu, era você, éramos nós, disputando "sei lá o quê". Só para afastar a sensação das mãos vazias, da falta de companhia, do abandono, que sucessivas vezes a gente tem confrontado...

  Ah..esses bêbados, depois de toda algazarra e bagunça que deixam atrás de si, ensinam tanto, tanto...


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