segunda-feira, 1 de outubro de 2012

O desespero só afasta

  Das coisas que aprendi sobre a vida, observando, vivenciando, errando tantas vezes, acertando algumas é que desejo sem paciência pode ser um suplício. Por vezes, na ânsia por se conquistar o que é almejado ou, mesmo, manter conosco a nossa conquista, nós a afastamos mais do nosso alcance. Desejo desesperado é balão de gás que solta das mãos, quanto mais nos debatemos para apanhá-lo, mais distante ele voa e não há ação que o segure. É deixá-lo ir, deixar voar.

  Imagino que desespero tenha cheiro, som ou imagem tão escandalosa que afaste bruscamente o que é desejado. Quanto mais nos esforçamos para alcançá-lo mais distante ele se coloca. O despero pode ser tão desastroso a ponto de nos cegar, confundir, deixar de sentir o prazer dos pequenos ou grandes regalos que a vida nos dá, por conta do que ela aparentemente nos nega. Faz, inclusive, a gente persistir em um desejo, sem ao menos entender o porquê. Uma vontade que mudou, um caminho que nem se deseja mais é seguido às cegas, teimosos nos mantemos firmes na rota que um dia desejamos.

  A amiga de infância desejava desesperadamente um amor, isso desde a mais tenra idade. Até compreendo sua necessidade infantil em ser amada. Com uma família pouco afetuosa, desequilibrada e inconstante sua autoestima sofreria grandes impactos e, talvez por isso, uma busca quase insana por um amor vindo "de fora". Se apaixonava diariamente e pelos mais diversos tipos, inclusive por aqueles pouco ou nada acessíveis: homens muito mais velhos, comprometidos, desinteressados por ela e até, lembro uma vez, por um celibatário e casto. A história, por pouco não causou problemas mais graves, principalmente para o moço, alvo da paixão desesperada da adolescente.

  Além do desejo, incalculado, em ser amada da moça, havia o desepero em encontrar amigos (o que afastava-o da maioria) do desavisado rapaz. Tantos anos enclausurado, ele viu na moça a possibilidade de laços fraternos com alguém tão receptiva quanto ela e para ela, a simpatia dele era uma possibilidade de amor. Influenciada pela fantasia romântica do amor de Santa Clara e São Francisco, minha amiga planejou entrar para um convento, mais tarde, burlar as leis religiosas e fugir com o amado. Depois de algumas correspondências trocadas o desesperado rapaz, percebeu as reais intenções da adolescente e nunca mais nem ao menos um bilhete dele a moça recebeu.

  Depois deste equívoco, outros sucessivos ocorreram na vida dela: relações doentias, homens impossíveis, fantasias irrealizáveis. Do rapaz religioso, o São Francisco imaginário da minha amiga, nunca mais tive notícias, mas suspeito que ele tenha preferido permanecer na  segurança do claustro. A antiga amiga há muito não vejo, mas sempre que sou surpreendida com a visão de um balão fugitivo a caminho do céu, penso ser mais um dos seus amores. E só hoje eu vi três desses fujões. 

  Lamento sua triste sina, mas confesso que com ela aprendi muitíssimo. É preciso sim manter acesa a chama dos nossos desejos, mas é preciso também que não nos apressemos muito, pois corremos o risco que a força da nossa precipitação apague o fogo do nossos desejos. Toda luta requer um pouquinho de paciência e espera. É respirar fundo e ver o que vem mais a frente...sem pressa, pressão ou desespero.



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