quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Tente estar na direção

  Pudesse eu ser completamente dona de cada pensamento que me toma, pudesse eu ser a motorista e não o carro, eu escolheria um caminho florido. Não daqueles jardins organizados e suntuosos do castelo de Versailles, não com uma flor atrás da outra, em harmonia premeditada. Mas, um bosque, um caminho com flores, matos e lama também, com pedregulhos, hora estreito e mais a frente todo largo. Estradinha simples,  sem muita complicação. Perfeição é complicada. Organização idem. Mas, sendo eu tantas vezes o veículo e não o condutor, meus pensamentos buscam desatinadamente uma direção prudente, um sentido em tudo que por ele passa. Falo de escolhas, relações e até mesmo ações, tentativas frustradas de acertos, analisadas demais.

  E, talvez, por analisar demais, o que é ruim afeta-me tanto, uma palavra, um gesto, uma desvirtude do até então amigo, parece-me ser mais forte do que qualquer outra paisagem. Por isso talvez uma crítica mais aguda, uma atitude inesperada ou, o simples fato, de não ter atendidos os  meus próprios anseios o carro se desgoverne tanto. Pudesse eu controlar meus pensamentos, cada um deles, por menor que fosse, levaria-os para um lugar de maior leveza, menos esperas, mais gratidão, levaria para o lugar onde os elogios permanecem, a admiração alheia desinteressada se mantivesse preservada, um lugar onde também não se ignorasse o ruim, mas ele não seria tão destacado.

  A amiga de tanto tempo disse-me uma coisa antiga,  singela, mas tão bonita a meu respeito, fiquei surpresa, como se não conhecesse a mim mesma ou um pouco incrédula, como se duvidasse da minha própria capacidade, mas muito grata, gentilezas inesperadas têm sido raras no atual caminho. Ou estaríamos tão preocupados em chegar a algum lugar  e por isso não contemplaríamos as belezas pela estrada afora? Preocupados com os buracos da estrada, a manutenção do motor e o comportamento dos outros motoristas, a viagem parece cansativa e tumultuada demais. Por que raios, o que desencanta dura tanto, toma uma proporção tão gigantesca dentro de nós, que começamos a acreditar que tudo é mesmo desilusão, desconfiança e interesse? 

  É bem verdade que a maior parte dos caminhos quem escolhe é o motorista, mas viagem muito comprida, intercalada por horas intermináveis de monotonia, o carro já treinado segue sua própria direção. Basta aproveitar um momento de descuido do algoz condutor e...seguir a sina desejada. Veículo rodado é capaz de reconhecer a melhor velocidade em cada trecho. Vez ou outra é preciso que o motorista passe a direção para o próprio carro. Hoje, queria era ser caminhão, desses que carregam uma filosofia exposta nas costas. E bem atrás no meu para-choque, teria comigo a frase: "Coloca o que te faz bem no banco do carona, porque o resto todo é só passageiro". Há dias que tudo que se quer é correr contra o vento e aproveitar a paisagem, só carregando mesmo o que é bom. Todo o resto vai ficando para trás...bem lá atrás...só mesmo de passagem. Existem sim caminhos menos sisudos, é viajar para ver.





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