segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Do something

  Confira as últimas mensagens no celular; internet no celular, é a grande descoberta - nos afasta da sensação do "não estou fazendo nada". Leve um livro na bolsa, um artigo, uma revista que pareça séria, balas, chicletes e extratos bancários, uma lista de temas "neutros" para conversas também podem ajudá-lo a afastar de certos "inconvenientes" que algumas reuniões sociais propiciam.

  A verdade é que a conversa fluiu, fluiu leve e normalmente, como sempre acontece quando ela está entre conhecidos, amigos ou gente com quem tem empatia. É quase um milagre, é assistir, de repente, a muda falar, falar muitíssimo...E entre uma opinião e outra, alguma revelação prosaica de cunho mais pessoal - que ela acreditava até ser notória, pública e "vísivel" -  e o amistoso ouvinte, passa a ser um inquisidor bárbaro, além de um palpiteiro infeliz. 

  E o antigo amigo, agora algoz, a faz pensar com maior profundidade em questões, cujas respostas ela ainda não tem (e nem sabe se um dia terá). Ninguém é igual, porque ela escolheria um destino igual? Constrangida, desafiada, ela utiliza-se do clichê, "imposição social". E, é bem o que é. Não é isto, que estão cobrando dela: fazer o que todos têm feito há séculos? Eles sorriem e concordam que a tal "sociedade" é mesmo cruel, mas eles nem sabem que hoje são eles a tal sociedade. E enquanto bebem, comem, comemoram ela se pergunta a razão de estar ali - um ambiente visivelmente hóstil para os que não compartilham do modelo. 

  E a escolha talvez nem tenha sido dela, de fato. A verdade é que as coisas poderíam ser diferentes, ela poderia mesmo ser igual, mas de alguma maneira, desde cedo, ao menos suspeitara, que não era. Até tinha os sonhos, projetos e desejos bastante convencionais, mas a maneira de atingí-los sempre foi bastante pessoal. Sem celular à mão, sem internet, balas, chicletes, livros, revistas, extratos ou tópicos de conversas, ela sorriu e se voltou corajosa para o antes temível arguidor, respondeu suas últimas perguntas, sem nunca hesitar e o que não sabia responder, improvisava, porque nenhuma outra fragilidade sua  seria exposta.

  Não, definitivamente ela não cabia na foto, ela até tentava e se espremia, para não causar nenhum mal estar aos outros, pudor que só fazia parte de um dos lados. Não há arrependimentos, nem de ter ido ao encontro, nem do destino que escrevia, só o lamento de não ter levado consigo o celular, o celular a teria salvado dos primeiros embates...a sensação poderia ter sido outra...

  Agora já sabe: da próxima vez, vai fazer alguma coisa, qualquer coisa, só não vai deixar que ninguém ou algo faça-a sentir-se inadequada, pelo simples fato de ser ela. "Não vai não" - obstinada ela faz a promessa para si. Se cumprirá, não se sabe, mas que vai tentar ao máximo, se a conheço bem, isso vai.



Nenhum comentário: