sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Nos olhos dos outros

 - Olha, eu não me importo. Definitivamente, não me importo mesmo. Há os que superestimam a opinião alheia e vivem sob o jugo perturbador do que o outro pensa;  de um outro lado, nem tão distante assim, existem os que a subestimam. Frequentemente faço parte do segundo grupo. "E não me importo". Por determinação, necessidade de me ver livre da dura e desconcertante amarra que a expectativa alheia traz consigo ou só por teimosia mesmo, acho que esta última, no meu caso, sempre acaba sendo a de mais valor. Mas sigo quase sempre sem requisitar uma análise exterior. E mesmo que opinem sem nenhuma solicitação minha, não tenho pudor algum em dispensar "bons conselhos" e responder pelas minhas próprias ações, ainda que estas, mais tarde, se mostrem completamente estúpidas.

  Por outro lado, embora a opinião alheia geralmente não tenha um papel relevante nas escolhas, ações e especialmente, no modo como vivo, sinto ou percebo o mundo, acho que o olhar alheio é absolutamente essencial. Os olhos dos outros detêm um poder desmedido. Acho que a gente nasce mesmo só depois de um olhar e, na mesma proporção, a gente morre infinitas vezes, também depois de um olhar. Nossa comunicação mais remota acontecia assim; o olhar deve ser um dos primeiros códigos que a gente aprende a interpretar. Bastava um olhar espremido entre as pálpebras franzidas e conhecíamos nossa primeira negativa. Olhos bem abertos, amplos, brilhantes e o nosso querido "sim" surgia.

  Um olhar maculado pela desconfiança, preconceito ou uma simples indisponibilidade, frequentemente, assassina o outro. Condena, de maneira irremediável, a possibilidade do outro nos mostrar por completo. Mata, sem direito a defesa, a chance de entrarmos em contato com a profundidade de uma alma. Os olhos maus impedem que o outro nasça inteiro para nós. Algozes contumazes esquecemos desse nosso poder e lançamos, um atrás do outro, nosso olhar cruel, inquisidor e definitivo. Os outros deixam de ser o que são e passam a ser quem nós achamos que são. Uma pena, acho.

  No entanto, há os que nos salvam, dia após dia, com um olhar presente ou a simples lembrança dele. Ontem, meu primeiro olhar de afeto comemorou mais um ano e eu sou tão grata por isso. Foi este olhar o primeiro e o mais frequente, que me protegeu dos medos, desculpou todas as  frustrações que capitaneei por rebeldia ou incapacidade e que se abriu para mim todas as vezes que requisitei sua aprovação amorosa. Foi no olhar dela que nasci pela primeira vez e é no olhar dela que eu renasço todos os dias infinitamente. Se eu já disse isso a ela? Claro, todos os dias, com o meu olhar cheio de gratidão.

  O olhar dos outros é o que nos dá ou rouba-nos a vida. O nosso olhar tem este mesmo poder e a gente subestima um gesto cotidiano, tão marcado, tão cansado, tão limitado. Eu continuo não me importando com a opinião alheia, mas o olhar. Ah, este sempre me afeta. E eu nem tinha ideia do quanto.




Um comentário:

Ana disse...

O olhar do outro é muito bom e tem importância quando é de alguém com quem nos importamos.